Wendell Lessawendell_lessa@yahoo.com.br

Como viver como cristão (parte I)

Publicado em 20/03/2024 às 20:13.

A primeira exortação é que devemos ser constantes no amor fraternal (Hb 13.1). O amor é um tema tão extensamente abordado nas Escrituras, que é impossível tratarmos aqui de tudo o que se refere a ele. Por isso, o escritor aos Hebreus sabiamente o resume em uma frase: “seja constante o amor fraternal” (Hb 13.1). Não há dúvidas de que aqui ele quer evidenciar o fato de que algumas pessoas estavam abandonando o cristianismo e por isso a igreja precisaria pensar nelas. Além disso, os que estavam saindo procuravam incitar os demais a disputas, falatórios inúteis e injustos.

Havia troca de farpas e acusações. O escritor quer que pensemos nas pessoas que estão saindo do nosso meio. E ninguém consegue pensar nessas pessoas que estão se afastando da igreja se não for por amor constante. Ninguém consegue relevar as injustiças, despistar as decepções, se não tiver amor. Ao contrário, a tendência é abandonarmos as pessoas, é deixá-las seguir seu próprio caminho de pecado e perdição, é gritar mais alto que elas para buscar nossas razões. Mas o amor busca, atrai. Ele não expulsa; acolhe. O amor é paciente com as falhas alheias e disposto ao reencontro sempre. Está sempre elogiando o perdão e a graça que salva. O amor nunca rechaça. Penso que é com essa perspectiva que o nosso escritor inaugurou essa seção com essa frase curta, mas fundamental: não dá para sermos cristãos no mundo se não tivermos amor constante entre nós.

Como poderemos demonstrar ao mundo o amor de Cristo se nós mesmos nos digladiamos? Amar é muito mais. É necessário se doar pelo outro, em detrimento se nossas próprias razões. É fazer como Cristo fez, desceu e se envolveu, morreu por nós. Amar é morrer muitas vezes. Morrer para nossos argumentos e salvar aquele está morto à beira do caminho. É ser hospitaleiro, e cuidar para que não seja isso conhecido (v.2). É cuidar do órfão, da viúva. É sofrer com os que sofrem, quer na alma, quer no corpo (v.3). Demonstrar misericórdia, compaixão e afeto. É abster-se do egoísmo.

E com a finalidade de colocar em prática a destinação desse amor, o escritor aponta algumas áreas no relacionamento com as pessoas que devemos praticar. A primeira que ele cita aqui é a hospitalidade (Hb 13.2).

Naquela época, muitas pessoas eram perseguidas por causa da opção pelo cristianismo. Algumas eram expulsas de casa e não tinham para onde ir. A comunidade dos cristãos estava espalhada e nem sempre era fácil encontrar apoio imediato. Outro problema é que as hospedarias e pensões da época não eram tão recomendadas. Eles não tinham uma reputação tão boa, eram básicas demais e sem nenhum conforto.

Então, o escritor está nos dizendo que ser hospitaleiro é uma marca distintamente cristã. Não parece ser um costume tão comum em nossos dias. Não recebemos tantas pessoas de fora assim. Mas o que o escritor quer nos ensinar é que devemos estar sempre dispostos para acolher aqueles que precisarem de nós: um irmão que passe por aqui e não tenha onde ficar; uma pessoa de nosso convívio que passe uma necessidade e que não tenha como ser acolhida noutro lugar. Devemos estar sempre dispostos para acolher. Esse é o ponto.

E ele acrescenta que Abraão e Ló foram recompensados por sua hospitalidade. Sem saber, eles acolheram anjos (Gn 18.2). Abraão acolheu três homens, que eram anjos. E conforme as notificações bíblicas, o próprio Senhor Jesus Cristo, com figura de anjo. Quando estamos dispostos a amar as pessoas recebendo e as acolhendo em suas necessidades, muitas vezes estamos recebendo anjos do Senhor que vêm trazer bênçãos de Deus para nós. Qual a nossa reação quando chega alguém na igreja que é diferente de nós e que não tem amparo, apoio ou amigos? O que fazemos com os novos membros da igreja? Nós começamos a julgá-los, a recriminá-los, a exigir deles que se adéqüem aos nossos padrões ou somos complacentes e amorosos, hospitaleiros, para acompanhá-los?

Nós queremos que as pessoas venham até à igreja, mas acho que muitas vezes não estamos preparadas para recebê-las como deveriam. Nós as espantamos, em vez de congregá-las; nós somos rápidos para fazer juízos temerários e falsos delas, em vez de conhecermos suas histórias e carências.

A segunda marca distintiva do cristão é cuidar daqueles que estão sofrendo (Hb 13.3) ou nossa compaixão. O autor menciona os presos e os que sofrem maus tratos. Nunca sociedade como a nossa não é difícil pensar naqueles que sofrem maus tratos. Eu penso que não há sentimento mais cruel e desumano do que qualquer um de nós não sentir intimamente o que qualquer outra que sofre sente.

É triste quando percebemos que a dor do outro não nos afeta mais. Quando nos tornamos insensíveis, indiferentes. O mundo está vazio de sentimentos de afetos. Percebo como um abraço faz tanta diferença para algumas pessoas. E é triste ver que há quem ainda julgue abraços com medo que de abraçar induza a pecados. Jesus não pensava assim. Ele se aproximava das pessoas, ele se encostava às pessoas, sentia as pessoas, elas tocavam nele. Mas há quem demore muito para sentir a dor do outro. Passa longe, como o levita e o sacerdote no caso do samaritano.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por