Uma consequência que acompanha a busca por autonomia é a busca por posição. O ser humano é sempre inclinado a almejar a dignidade de sua posição social. Um dos temas mais recorrentes na atualidade é a autoestima. O importante, para muitos, é sentir-se bem, não importando, necessariamente, se o que se vai fazer é certo ou errado. A questão que define uma tomada de decisão é o meu ego, minha autoestima.
Entretanto, a Palavra de Deus nos adverte severamente quanto a essa autoestima. Ao contrário do que poderíamos pensar, Deus manda que consideremos os outros superiores a nós mesmos. É interessante, porque Deus nos manda a um estado abaixo de nós mesmos e a autoestima passa a ser uma espécie de alterestima – ou estima do outro. Significa que o Senhor deseja que reconheçamos a posição de superioridade de nosso próximo. É muito interessante quando percebemos que a humildade desfaz o desejo de ser maior.
O evangelista D. L. Moody disse, em certa ocasião, que “O início da grandeza é ser pequeno; o acréscimo da grandeza é ser menos e a perfeição da grandeza é ser nada”. O apóstolo Paulo escreveu em sua carta aos Filipenses 2.3,4: “Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros”.
Paulo desafia cada um de nós naquilo que constitui o cerne do ser humano. Paulo desafia a que nos neguemos a nós mesmos e desconsideremos os nossos desejos por amor ao outro. Paulo está nos ensinando a amarmos o outro ao invés de desejarmos ser amados. David Powlinson, com muita precisão, afirmou que esse desejo que temos de ser amados ao invés de amarmos aos outros é idolatria. E essa idolatria nos define como prisioneiros de sentimentos egocêntricos contrários, evidentemente, à nossa liberdade humilde em Deus.
Nas palavras de Powlinson, “Falhamos em amar as pessoas porque somos idólatras que não amam a Deus nem ao próximo. Tornamo-nos objetivamente inseguros porque vivemos sob a maldição de Deus e porque os outros estão na mesma condição egocêntrica que nós. Criamos e experimentamos afastamento de Deus e dos outros. O amor a Deus ensina-nos arrependimento da “necessidade de ser amado”, vendo isto como desejo descontrolado, e recebendo dele um amor real e misericordioso, aprendendo assim a amar em vez de sermos consumidos pela luta por conseguir amor”.
Paulo opõe o partidarismo e a vanglória à humildade. Podemos aprender com isso duas verdades, pelo menos. A primeira é que Paulo se mostra contrário ao partidarismo ou proselitismo – que é quando nos associamos a pessoas com a finalidade de as convencermos a aderirem a nossas ideias, apenas por conveniência política. Se formos humildes, negaremos aos nossos desejos e seguiremos a verdade para benefício do outro.
Em segundo lugar, Paulo contrapõe a vanglória à humildade. É interessante que vanglória já se define como uma espécie de glória vã, sem sentido, que não pode subsistir, pois não é verdadeira e conduz a nada. A vanglória é uma presunção sem fundamento, é somente vaidade. Os homens que pensam que têm glória e não a têm são tolos e caem por sua própria soberba. Enganam-se a si mesmos. Novamente Salomão afirma que “Antes da ruína gaba-se o coração do homem, e diante da honra vai a humildade” (Pv 18.19).
São inúmeros os exemplos de homens soberbos que se acham donos de posições sociais e que caem de bem alto, porque não se reconhecem dependentes de Deus e dos homens. Não devemos buscar posições acima daquilo que Deus nos coloca. Devemos honrar a Deus e aos homens, sendo humildes. Devemos nos contentar com o que temos e ser gratos a Deus. Buscar o bem do outro é também encontrar a nós mesmos e satisfazer a lacuna que existe em cada um de nós. No outro, como que um espelho, nós nos vemos. No outro, espelhamos nosso bem-estar e nos reconhecemos.