Jacó queria “voltar para casa”. Esse é, de fato, o desejo de todo servo de Deus. Qualquer um que contemple de verdade a maravilhosa graça do Senhor deseja se encontrar com ele na morada especial. Todo crente sabe que a “bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do SENHOR para todo o sempre” (Sl 23.6), porque “na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl 16.11).
Jacó estava perto de sua morte (Gn 48.1; 49.33). Ele já não tinha forças para se sentar na cama (Gn 48.2), e seus olhos já estavam cegos (Gn 48.10). José foi avisado da fraqueza de seu pai e, então, levou consigo Efraim e Manassés, seus filhos, para visitá-lo (Gn 48.1). Efraim e Manassés nasceram no Egito (Gn 48.5), o que prova mais uma vez o poder da graça de Deus de fazer para si um povo não especificamente nascido em Israel, mas nascido no Espírito Santo (Jo 1.12-13); porque “nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas, em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa” (Rm 9.6-9).
Ao ver o seu filho José, Jacó se levantou com dificuldade e disse a José que o Senhor da Aliança o havia abençoado com prosperidade, de tal maneira que ele se tornaria “multidão de povos” e que daria à descendência dele “esta terra em possessão perpétua” (Gn 48.4). E, então, chamou os filhos de José, Efraim e Manassés, e os abençoou. Ele colocou ambos à sua frente, em suas pernas: Efraim do lado esquerdo, por ser o mais novo, e Manassés do lado direito, por ser o mais velho. Todavia, ao ministrar a bênção, Jacó cruzou as mãos, invertendo, assim, a ordem de preferência. Embora fosse Manassés o primogênito, Jacó estendeu a mão direita sobre Efraim e a esquerda sobre Manassés. José não gostou do fato, tentou avisar o pai, mas Jacó não mudou sua escolha (Gn 48.13-19), porque certamente já estava prescrito aqui pelo Senhor da Aliança que “não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16). Jacó havia sido escolhido por Deus, mesmo não sendo o primogênito. Agora, ele imita o S
enhor e escolhe o mais novo, Efraim: “Deus te faça como a Efraim e como a Manassés. E pôs o nome de Efraim adiante do de Manassés” (Gn 48.20).
O capítulo 49 registra as bênçãos de Jacó às doze tribos de Israel. Profeticamente, ele diz o que ocorrerá com cada uma das tribos e demonstra, mais uma vez, sua confiança na providência secreta do Senhor da Aliança, que seguirá cumprindo o seu propósito.
a) Rúben, Simeão e Levi, os três primeiros filhos de Lia, recebem o que Bruce Waltke chama de antibênçãos. Isso porque as profecias são castigos em razão de seus graves pecados. Rúben era dirigido por paixões desordenadas. Ele fez sexo com a concubina de seu pai (Gn 35.22) e, por isso, profanou o leito de seu pai, “subiste à minha cama” (Gn 49.4). Por isso, o seu nome não seria o mais excelente, ele não seria o mais excelente em poder, apesar de ser o primogênito. Jacó deixa claro que a primogenitura não era garantia de preferência, assim como o fato de pertencermos à família sanguínea não é garantia de pertencermos à família espiritual.
b) Simeão e Levi eram violentos e crueis. Eles agiram com ira e ferocidade extremas e desnecessárias em Siquém, quando Diná foi sequestrada (Gn 34.1-31). Por isso, eles seriam divididos e espalhados (Js 19.1, 9; Nm 35.1-5; Js 14.4; 21.41). Eles perderiam o poder e a capacidade de dominarem sobre outros povos.
c) Gênesis 49.8 se inicia com “quanto a Judá”, claramente contrastando com as “antibênçãos” anteriores. Judá será louvado. Em razão de seu quebrantamento (Gn 44.18-34), Judá será exaltado. Os seus irmãos se curvarão diante dele, numa clara demonstração de reverência. Ele é um “leãozinho”, poderoso. Embora José recebesse o direito de primogenitura, de Judá descenderiam os reis davídicos (1Cr 5.2). E em Apocalipse 5.5, lemos: “... o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos”. Jesus Cristo é o “Leão da tribo de Judá”. Judá é, portanto, o “leãozinho”, aquele que simboliza o grande Leão. Jacó disse a Judá: “O cetro não se arredará de Judá” (Gn 49.10), porque o cetro pertence ao rei. E o seu reino será próspero (Gn 49.11-12).
d) Zebulom foi o sexto filho de Lia, o décimo de Jacó. Issacar foi o quinto filho de Lia, e o nono de Jacó. Todavia, Zebulom aparece antes de Issacar. Novamente, Jacó inverte a ordem. Isso pode ser explicado, mais uma vez, pela preferência espiritual e não sanguínea. Issacar não gostava de trabalhar. Ele “baixou os ombros à carga” (Gn 49.15). Zebulom era mais enérgico e próspero. Ele herdou a terra de Sidom, a Fenícia.