Parada no tempo observando como as coisas se dão do lado de cá, coisas como o desabrochar das flores do jardim, ou quanto de água estou bebendo em um dia nesses últimos dias que estão mais quentes (eu não sou muito de beber água) ou mesmo quantas mangas se acrescentaram ao chão após uma ventania de um dia para o outro, acabei adentrando nas horas e reparando o funcionamento um tanto quanto particular da tal Princesa do Norte, meu berço natural e de escolha.
No geral as cidades seguem mais ou menos um mesmo compasso: quem levanta primeiro começa a girar a roda e logo logo a cidade inteira está de pé e operante. É certo que quem levanta primeiro geralmente tem menos dinheiro e trabalha mais. Mas aqui desse lado, aparentemente ter ou não ter vai dar mais ou menos no mesmo.
O centro só abre depois das 8h, isso os que chegam primeiro. A maioria vai chegar lá pelas 9h e tanto e ainda vai tomar café. O rico e o pobre que precisarem por um acaso comprar um presente pro filho levar no amigo oculto da escola, que o menino só avisou ontem a noite, vai ter o dia todo atropelado se quiser manter o compromisso.
Você vai procurar algum doutor, o doutor só chega às 10h. Vai fazer um exame admissional pra você ver!
Longas filas se formam por qualquer motivo com o único intuito de esperar, quase que como um hobby. Esperar para pagar, esperar para comer, esperar para ser atendido. Eita, como é paciente!
Ter essa vagareza no sangue faz com que quem aperta o passo seja notado, para o bem ou para o mal. Ou tá querendo muito atingir o objetivo ou tá devendo. Até os mal intencionados levantam cedo quando querem alguma coisa. Deus ajuda quem cedo madruga! E dá-lhe O milagre do amanhecer!!!
E é por isso que quando pedem pra ontem, mineira que sou, desconfio.
Cara-quente carimbada no sol daqui, embora só tenha experimentado suco de coquinho agora adulta.
E eu achando que quem tem fome tem pressa…
A verdade é que até com a fome se acostuma. Para de pedir, para de esmolar e amolar. Quem tem gana é que tem pressa.
Montes Claros segue mansa e poética na vagareza dos dias que se estendem no sertão norte mineiro. Num rum ritmo ora manso demais para reivindicar, ora apressado demais para incluir.