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Quinta-Feira,20 de Novembro
Sarah SanchesMãe, empresária, escritora, fotógrafa e barista

Metrô

Publicado em 17/08/2023 às 21:34.

Um metrô. Todos aqueles rostos desconhecidos que na maioria das vezes nem se olham de verdade. Nem se sentem. Todos tão ocupados com a sua juventude clara, a sua velhice breve, a sua criança dentro. O trabalho, o paciente, o bebê sorrindo, a escola...Sem destino e sem maquinista, eu vou. Não me olham e não me veem. Pra onde vão? É necessário que voltem?

Uma parada. Duas. Ainda são cinco da manhã e eu já percebi o quanto o mundo é grande. Me faz parecer pequena. Sou pequena? Não, sou mundo. E todas as vezes que sai, assustei metade de pretendentes inúteis. A outra metade não existe de verdade.

Houve um milagre, logo de manhã, quando o sol começou a surgir... Um anjo oriental, pra indicar o caminho. Os anjos não escolhem um corpo, eles simplesmente ajudam. São frágeis. Me escolheram amanhecendo para provar que estava protegida naquele lugar novo. Ainda estou.

Meu ponto. Adeus. É bem provável que nunca mais irei ver essas pessoas, e mesmo que veja, não acho que seja possível que as reconheça. Não me tocaram. Não me viram. Eu tampouco as vi também..., mas sei que um anjo se reconhece. Sei que se o ver novamente, irei pronunciar o seu nome, e ele se lembrará também.

Uma viagem curta, que me deixou marcas. Uma marca deixada em uma viagem. Enquanto eu discutia as estrelas com ele que é tão terreno, me lembrava que somos amigos por isso: por ele me ensinar as coisas da terra e fingir que ouve minhas coisas de céu, Lua, Marte e Vênus. “Uma lunática”, diria rindo. E aí eu deito no seu ombro estreito e escuto o coração dele bater levinho, canção de ninar, um tic-tac de relógio antigo. Durmo. Estou protegida, nele, tão inseguro. Durmo quase uma vida inteira porque estou bem. Todos os problemas ficaram lá, nas montanhas claras daquela cidade escura. Não existe mais nada com o que me preocupar, porque - por alguns instantes - nem eu existo mais. Me refiz. Reinventei. E tudo que sou agora é bonito de se ver, de se ser. Uma espécie de mutação, que causou dores. Dores de parto. Dores de cálculos. Dores. Passou.

Hora de voltar, mesmo que não queira. Sentir novamente o gosto na pele, nos olhos, daquela cidade luz que me chama. Ver o meu pequeno grão de amor. Ver o meu amor. Ver os cachorros sorrindo com os olhos. 

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