Existem tantas brincadeiras e memes que envolvem o psicólogo e o seu fazer e tantos outros profissionais que se acham “meio psicólogos”, que parece que, para ser este profissional, basta escutar. E, para outros, nem isso: “basta balançar a cabeça”. Mas o que se passa que há uma simplificação tão grande sobre a atuação do psicólogo? Afinal, a formação em Psicologia acontece em cinco anos de curso, com carga horária intensa (4200h) dedicada à teoria (3200h) e aos estágios (800h), provas, apresentação de trabalhos, projetos de pesquisa e extensão, TCC, além do contato direto com pessoas em sofrimento mental, grupos, famílias, instituições públicas e privadas.
Ao longo dessa formação, os futuros psicólogos são expostos a diversas disciplinas que vão muito além do senso comum sobre a profissão. Estudam a história da Psicologia como ciência, suas raízes filosóficas e sociais, além de se debruçarem sobre teorias do comportamento humano, da subjetividade, do inconsciente, dos sistemas familiares, da cognição e das emoções. Aprendem também sobre psicologia do desenvolvimento, psicologia social, psicologia institucional, psicopatologia, neuropsicologia, saúde mental, políticas públicas, direitos humanos, avaliação psicológica, orientação profissional, processos grupais e intervenções clínicas, entre outros conteúdos.
Mas o psicólogo não trabalha apenas em consultórios particulares. Sua atuação se estende a escolas, hospitais, unidades básicas de saúde, CAPS, CRAS, CREAS, empresas, organizações sociais, políticas públicas, sistema prisional, instituições jurídicas e comunitárias. Atua em processos de escuta qualificada, avaliação psicológica, intervenções individuais e coletivas, mediação de conflitos, promoção da saúde mental, prevenção de adoecimentos psíquicos, desenvolvimento humano e apoio psicossocial em situações de crise.
Portanto, a Psicologia é uma ciência e uma profissão regulamentada, com um compromisso ético e técnico para lidar com a complexidade dos fenômenos humanos. Reduzir o papel do psicólogo a "dar conselhos", "escutar e balançar a cabeça" ou "ser amigo" é não reconhecer a profundidade e a responsabilidade envolvidas nesse trabalho.
Ser psicólogo é, acima de tudo, compreender que cada escuta carrega uma técnica, cada intervenção carrega um embasamento científico e cada relação estabelecida com o outro carrega um compromisso ético com o cuidado, o acolhimento e a transformação da subjetividade daquele que o procura; uma transformação que se dê a partir de seu próprio desejo, e não em nome de um ideal imposto pelo Outro.
*Psicóloga e docente da FASI