Prefaciar este livro me traz muitas lembranças à minha mente e ao meu coração. Olhar pelo retrovisor de minha existência é um instante doloroso, uma mistura de alegria e suspiros de tristeza. Vejo nessas lembranças, que só o passar dos anos pode construir, uma adolescente encurvada sobre um livro; com páginas, que registraram resiliências, ressignificados e sonhos. E ninguém vive sem sonhar.
Na minha adolescência lá nos anos 1958 eu ouvia uma música, que foi o maior sucesso nas paradas musicais e dizia assim:
“Eu quero um broto de Marte que seja sincero; que não se pinte, nem fume, nem saiba sequer o que é rock in roll! Marcianita... gorduchinha, magrinha, baixinha ou gigante será meu amor; a distância nos separa, mas nos anos 70 felizes seremos os dois.
E eu imaginava anos 70?! Está muito longe. Mas atravessei os anos 70 e alcancei o ano 2020. Um ano marcado pelo isolamento e distanciamento social entre as pessoas. Mas o movimento de isolamento e distanciamento social ocorrera lá num distante passado, nos dias de Israel, quando Jesus andou aqui na Terra. Foi por ocasião da lepra, o primeiro surto pandêmico, que ocorrera. A lepra foi um mal contagioso e as pessoas portadoras da doença eram tiradas do seio da família e levadas para um leprosário para serem curadas ou morrerem. Eram pessoas discriminadas e recebiam o tratamento de imundas. Um dia, dez homens portadores de lepra estavam numa rua isolados, sentindo as dores físicas e psicológicas. De repente eles ouviram ruidosos passos e uma conversa em uníssono entre os transeuntes; eles perceberam que era aquela multidão, que se apinhava ao redor de Jesus. E, ali eles cansados, cansados, físico-mental-emocional e espiritualmente clamam em alta voz: — Jesus, filho de Davi tenha misericórdia de nós!
Jesus os ouviu e disse-lhes que se apresentasse ao sacerdote para que se tornassem limpos. E a história conta que após se apresentarem ao líder espiritual eles voltaram com a pele limpa com o viço da pele de uma criancinha. Aqueles homens embora rodeados pelo preconceito, dores atrozes e abalados eles buscam ressignificado para suas vidas: foram ao encontro de Jesus.
Ressignificando a Vida é o título do novo exemplar de crônicas escritas por Glorinha Mameluque. Uma fonte inesgotável de produção literária, no tempo da pandemia ela escreveu, promoveu o concurso Poesia em tempo de Pandemia publicou uma Antologia com os participantes do Concurso e, agora ela nos traz uma riqueza de crônicas abordando momentos maviosos, momentos de tristeza, momentos e homenagens e de recordações as mais diversas desenvolvidas ao longo da vida.
O que Glorinha escreve não fica sem ser lido; sua escrita é como uma taça de sorvete do sabor da preferência e quem lê e vai se degustando cada palavra, cada frase, cada parágrafo e de repente quando terminamos ficamos assustados, pois estava om demais para finalizar.
O título Ressignificando a Vida nos leva à reflexão de quão necessário se faz buscarmos ressignificar nossos sentimentos , nossos saberes nossas convivências ; e em todos os aspectos de nossas vidas precisamos ressignificá-la criando novos fatos, compondo novas histórias, refazendo o que não ficou à altura de nós mesmos ou do outro , sairmos da mesmice e enfrentar desafios e isso vamos aprender lendo as crônicas inteligentes contidas nesse livro.
O enredo emocionante desenvolvido por ela em cada crônica mostra a sua vivência com percalços e dificuldades, que não a desanimam, mas que a impulsionam a prosseguir mesmo em meio às intempéries.
São várias crônicas delineadas numa riqueza literária que por certo fascinarão o leitor atento.
E então eu me lembrei daquela música, que cantei muito com meus pequeninos alunos: “Andar sem temor pela vida; e sentir o valor de se ter liberdade; poder abraçar um amigo e sentir o calor de uma grande amizade./ Cristo é a felicidade, Cristo é a felicidade/ Sem ter amor nesta vida não há/ Quem seja feliz de verdade”.