Ela não pede licença, não se anuncia. Muitas vezes, se instala em nossos dias como uma névoa densa, turvando a paisagem da nossa mente. Aqui, ela não é pontual, da que surge e se vai com o revés de um projeto ou a fila do banco. É aquela que se aninha, persistente, e nos convence a repetir o mesmo esforço inútil, dia após dia.
É um fenômeno curioso: quanto mais investimos em algo que não funciona, mais difícil se torna desistir. Abandonar significa admitir o tempo, a energia e o esforço desperdiçados. É como se a cada tentativa, amarrássemos mais um fio de teia a uma estrutura que está desmoronando.
Ela nos mantém na armadilha. Acreditamos que, com um pouco mais de esforço, uma pequena variação na abordagem, ou simplesmente mais tempo, o resultado virá. Ignoramos os sinais claros de que o caminho escolhido é infrutífero, preferindo nos apegar à ilusão de controle sobre o incontrolável.
A ideia de recomeçar do zero parece mais dolorosa do que continuar puxando algo que já está quebrado. Preferimos a familiaridade da luta conhecida à incerteza da mudança. Sabemos, no fundo, que não está funcionando. Porém, para reduzir o desconforto de ter duas ideias contraditórias – a de que devemos mudar e a de que não mudamos –, nossa mente se esforça para justificar a inação. Criamos narrativas, culpamos fatores externos, minimizamos o impacto negativo, tudo para manter uma coerência interna, ainda que essa coerência nos empurre para ela.
Investimos energia em algo que não gera frutos. A cada tentativa falha, a autoestima sofre um abalo. A motivação se esvai. O que era uma busca por um objetivo se torna uma mera repetição mecânica, destituída de alegria e propósito. A criatividade se apaga, a capacidade de resolver problemas diminui, e nos vemos presos em uma rotina de desânimo e estagnação. O cansaço não é apenas físico, mas uma exaustão da alma, de um espírito que insiste em bater contra a mesma parede.
Nos tornamos Sísifo, condenado a rolar uma imensa pedra montanha acima apenas para vê-la descer novamente, para sempre. A repetição fútil, a ausência de progresso, a certeza de que cada esforço será anulado se torna nossa rotina. A maldição de Sísifo não é a pedra, mas a condenação à esperança vã, ao ciclo sem fim. E, no entanto, Camus propôs que devemos imaginar Sísifo feliz, encontrando significado na própria luta, na rebelião contra o absurdo.
Mas Sísifo não tinha escolha. Nós, por outro lado, temos. O reconhecimento de que ela, a frustração persistente, existe, é o primeiro passo para a libertação. É preciso coragem para olhar para a nossa própria pedra, admitir que ela não vai ficar no topo, e decidir não mais empurrá-la. Quebrar o ciclo vicioso exige autocompaixão, flexibilidade cognitiva e a coragem de mudar. Significa reavaliar, redefinir, e, muitas vezes, abandonar o que não serve mais, mesmo que isso signifique aceitar perdas.
A frustração é uma mensageira. Quando ela persiste, não é um convite para mais do mesmo, mas um alerta, um sussurro insistente para que mudemos o rumo, para que encontremos um novo caminho, uma nova montanha para escalar – ou, quem sabe, para que deixemos de empurrar a pedra e simplesmente a contemplemos, antes de seguir em frente. Provavelmente encontraremos outra pela frente. Mas, assim é a vida.