Minha história com o Cinema Comentado começou ainda na faculdade de jornalismo. O coordenador do curso, Elpídio Rocha, falava com entusiasmo sobre o cineclube, do qual fazia parte desde o início. Foi ele quem me apresentou à iniciativa criada em 2003 pelo sociólogo Fernando Rodrigues, um apaixonado pelo cinema. A ideia era simples e, ao mesmo tempo, revolucionária: exibir filmes fora do circuito comercial e promover debates, criando um espaço onde o cinema pudesse ser vivido além da tela.  

Inicialmente, a participação foi discreta. Porém, o público, formado por estudantes, professores e curiosos, crescia a cada sessão. O Cinema Comentado não era somente um cineclube, era um ponto de encontro, um convite à troca de ideias, um lugar onde filmes instigantes encontravam espectadores dispostos a mergulhar em novas narrativas.   O projeto chegou a receber, em uma única sessão, mais de 200 pessoas. Naquela época, com o ainda escasso acesso à internet, o Cinema Comentado era o point para conferir obras que nunca chegaram aos cinemas brasileiros.

Com o tempo, a iniciativa foi ganhando corpo e se tornando maior do que seus fundadores talvez tivessem imaginado. Em 2007, veio o primeiro Festival de Cinema de Montes Claros. O festival marcou um novo momento para o cineclube, que passou a investir também na formação audiovisual, promovendo oficinas e debates com diretores e roteiristas.  

Até 2020, o Cinema Comentado realizou quatro edições da Mostra de Cinema de Montes Claros, consolidando-se como referência na cena cultural da cidade. Sem pressa, sem holofotes excessivos, mas com um compromisso inabalável com a arte, o Cineclube seguia seu caminho. Veio a pandemia e, como tudo na cultura, o projeto precisou se reinventar. A 4ª Mostra de Cinema de Montes Claros, em 2020, aconteceu no formato digital, garantindo que, mesmo em tempos de isolamento, o cinema continuasse sendo um elo entre as pessoas.  

Em 2023, o cineclube celebrou seus 20 anos com uma programação especial. Houve sessões comemorativas, exibições em parceria com a Unimontes e um resgate histórico do impacto que o projeto teve na cidade. No ano seguinte, as comemorações seguiram com a 24ª Mostra de Cinema Nacional Curta Circuito, que trouxe para Montes Claros filmes que exploravam a resistência feminina na sétima arte, em parceria com o Curta Circuito. E, em outubro de 2024, o Cinema Comentado promoveu um Festival de Cinema, com mostras competitivas, oficinas e debates que reafirmaram o compromisso da iniciativa com a formação de novos cineastas e a difusão do cinema independente.  

Agora, em março de 2025, chega a hora de encerrar essa celebração de duas décadas e um ano com a Mostra Itinerante “Cine na Estrada”, levando o cinema para as ruas e praças de Bocaiuva, Glaucilândia, Capitão Enéas e Montes Claros. Com acesso gratuito e uma seleção cuidadosa de filmes, a itinerância reafirma o propósito que deu origem ao cineclube: levar o cinema aonde ele ainda não chegou e promover encontros em torno da sétima arte.  

Olhando para essa trajetória, vejo que o Cinema Comentado é mais do que um cineclube. É um movimento que resistiu ao tempo, às mudanças e às dificuldades, sempre se reinventando, sempre acreditando na força transformadora do cinema. E, como todo bom filme, essa história ainda tem muitas cenas por vir.