Desde o último dia 23 de maio, o Complexo Cultural e Turístico Estação Ferroviária, em Bocaiuva, é palco da Mostra Estação Arte Cidadania. O evento, que segue em cartaz, oferece uma rica programação com exposições, oficinas, apresentações de teatro, música, dança, palestras e uma intensa troca artística e cultural. As atividades são voltadas para públicos de todas as idades.
Um dos destaques da mostra é a exposição "Balaio Mineiro – Memória de uma Família Brasileira", idealizada e curada por Regina Souza. A abertura, segundo ela, foi marcada por forte carga simbólica e emoção.
— Foi linda. Justamente no dia 23 de maio, aniversário da minha avó, Maria da Conceição, nascida em 1906, aqui em Bocaiuva. Assim como suas filhas — Maria Cândida, Zilah, Wanda — e o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, todos nascidos aqui. Depois, vieram Glorinha e Henfil, em Neves, e já em Belo Horizonte nasceram Filó e Chico Mário — relembra Regina.
A curadora destaca com carinho a equipe responsável pela montagem da exposição, exaltando a beleza do trabalho coletivo:
— A exposição ficou maravilhosa! A expografia da Clarissa Neves, o design assinado por Cláudio Santos e Victor Rei, a produção de Alexandre Tavera, a execução da Exatta Arquitetura... Foi um trabalho feito com muito amor, dedicação e respeito. Todos entenderam a importância dessa exposição para a cultura e a educação brasileiras — afirma.
Como se trata de uma mostra permanente, Regina ressalta o potencial educativo do projeto:
— Muitas escolas poderão visitar e proporcionar aos estudantes uma experiência única, onde arte, história e cidadania se entrelaçam.
O co-curador Yuri Ricardo destaca o desafio de sintetizar o legado de uma família que marcou profundamente a vida cultural, social e política do Brasil.
— Cada membro da família Figueiredo representa um oceano de histórias e contribuições. Reunimos mais de 2 mil documentos espalhados por quatro cidades — Bocaiuva, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro — para construir núcleos que retratam temas como ativismo social, música independente, charges e atuação na mídia — explica.
A pesquisadora Patrícia Luchesi pontua a importância de destacar as mulheres da família como guardiãs da memória:
— É um paradoxo: as que quase sempre são esquecidas, são justamente as que guardam a história. As mulheres lidam com isso há gerações. Por isso, optamos por um olhar feminino sobre essa trajetória — destaca.
Ela homenageia figuras femininas marcantes da família, como dona Maria, sempre acolhedora; Filó, com seu olhar fotográfico sensível; Glorinha, dedicada à campanha da cidadania no Rio; Zilah, que cuidava de todos; Wanda, comunicadora aguçada; e Tanda, que preservou as primeiras ilustrações de Henfil.
— E acima de tudo, a imensa dedicação de Regina Souza. Ela gestou essa exposição com amor, costurando memórias, resgatando receitas antigas, se emocionando com cada carta e foto. Eu sou testemunha do nascimento desse projeto tão necessário, gestado no útero da força feminina — conclui Patrícia.