No dia três de dezembro Tio Tom – Petronilho Narciso Júnior fez aniversário. Foi meu ídolo na infância e mantenho essa admiração.

Lembro-me de um dos seus trabalhos para o Colégio São José, cuja execução segui passo a passo. A cartolina foi emoldurada por durex vermelho e nela foram colocados ilustrações e seus nomes em Inglês. Eu tinha sete anos e ele 13, pois tem seis anos a mais do que eu.

Foi Tio Tom quem me ensinou a andar de bicicleta na Rua Carlos Pereira, em frente a sua casa. Foi numa bicicleta de tamanho médio de cor verde. Ele a segurou por trás e empurrando-a me soltou aos berros: “pedala!!! Olha pra frente!!!” Daí por diante soube como andar de bicicleta. Aos sete também aprendi a nadar.

Ele ganhou uma luneta. Ficávamos avistando ao longe. Apontávamos para a lua, a serra, algo mais alto adiante, a torre da Catedral e nos deliciávamos com a visão nítida dos detalhes distantes. Cada revelação visualizada desencadeava emoções. 

Tio Tom manifestava gênio criativo. Promovia pescarias de objetos escondidos na serragem com uma argola à mostra e pescados com vara e anzol, numa espécie de jogo de azar. Pagava-se por um ingresso fixo e a tentativa era feita. O brogodó era semelhante. Ele pegava enfeites e brinquedos e escrevia num papelzinho o nome deles. Após pagar um preço estipulado, o menino pegava um dos papeizinhos, abria e lia o que havia ganhado. Montava uma banca de revistas usadas, colocando-as na porta da rua dependuradas num cordão para venda.

Tio Tom pegava pedaços de películas de filmes descartadas no cinema, a cada ruptura delas durante a projeção. Montava um projetor numa caixa de sapatos munida com um jogo de lentes por dentro e com uma luz atrás, entre o filme e a lente, colocava um lençol branco na parede, a guisa de tela, a meninada sentava-se em cadeiras enfileiradas, apagava-se a luz e começava o cineminha. A empolgação era propulsora para novas descobertas.

Convidando amigos e fazendo ensaios, eram comuns sessões de teatro no quintal. Também havia treinamento para quadrilha junina e horas dançantes com amigos da sua idade na sala da casa. Eu menina olhava encantada.

Era bom ver sua capacidade de realizar. Depois, economista, seria professor de Economia. O mundo mágico saído da cabeça de Tio Tom me deixava maravilhada.

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