Mara Narciso

Segurança domiciliar

Publicado em 15/01/2024 às 21:24.

Há 70 anos o povo de Januária não fechava a porta das suas casas a hora de dormir. A cidade era pacífica e a cadeia ficava quase vazia. Porém, a vileza faz parte da natureza humana, ainda que, de alguma maneira, as pessoas temessem a lei. Essa visão romântica do passado é equivocada, por ser um período de falsa moral e desavenças resolvidas a bala.

As décadas foram passando, e os muros foram subindo, os gradeados foram dando lugar aos paredões; portas e portões abertos, ainda que encostados, viraram memória de um tempo em que os vizinhos eram amigos e as crianças brincavam na rua.

Há pelo menos duas décadas, em Montes Claros a parafernália de segurança domiciliar vem de ampliando, sofisticando e se popularizando, em especial as cercas elétricas, concertinas e câmeras de segurança. Aos poucos foi saindo de moda a expressão “só fecha a porta depois de o ladrão entrar” passando a valer “a ocasião faz o ladrão”. Os que podem proteger seus pertences seguem o ritual sugerido pelas lojas de equipamentos de segurança, e se esforçam para guardar a si e a sua família, com portão eletrônico, grades na janela e tetra chave – com quatro segredos.

Listo outros itens: luz de emergência – funciona à bateria e é útil quando a energia acaba; simulação de presença na casa – lâmpada interna acesa, rádio ligado, pessoa recolhendo jornais e limpando o ambiente; lâmpada com sensor de luminosidade – apaga quando clareia; lâmpadas Wi-Fi – desligadas remotamente conforme a conveniência; câmeras falsas – para enganar quem chega; entrada com visibilidade ampliada – evitar árvores fechando a visão; sensores de presença – o calor corporal denuncia que há alguém; evitar escadas e lixeiras altas na parte externa para não facilitar a entrada pelo telhado; fechadura digital – com teclas para abrir a porta; cofre digital ou por biometria – senha numérica ou digital; sensor de portas e janelas para denunciar presenças nas partes frágeis; sistema de alarme de abertura de portas e janelas; reforço nas portas; porteiro eletrônico – câmera na porta para se entrevistar quem chega à casa. Em contrapartida, os assaltantes estão a cada dia mais ousados e confiantes. Em grupo, agem 
com brutalidade, usam máscaras e luvas e trocam de aparência para escapar.

Dezoito anos e meio após o furto ao cofre do Banco Central em Fortaleza, Ceará, o engenheiro projetista e executor do túnel, foragido há 12 anos, foi reconduzido à prisão, há um mês. No dia cinco para seis de agosto de 2005, sexta para sábado, uma quadrilha entrou no cofre do Banco Central, através de um longo túnel que partia de uma casa alugada por ela e furtou 164,7 milhões de Reais – três toneladas de notas de R$50,00. O crime foi descoberto no dia oito. Com a venda de bens, foram recuperados 60 milhões. Dos 134 indiciados e 90 condenados a penas de três a 170 anos, foram absolvidos 24, assim como 55 tiveram suas penas reduzidas ao recorrerem ao STF.

Pelo ato criminoso em si, deduz-se que todos os lugares têm um ponto vulnerável. Quando alguém decide entrar numa casa, entrará.

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