Estava arrumando a cozinha entretida com Greg News, humorístico de Gregório Duvivier, quando ouvi um rufar de asas que me fez olhar para trás e ver algo escuro voando e emitindo um som rouco. Um surpreendente bólido redondo e veloz girava próximo ao lustre. Era um minúsculo beija-flor. Batia a cabeça no teto branco e lá deixava penugens pretas. A ave assustada e desorientada não sabia como escapar. O lugar tem três portas, e uma delas foi fechada para que Pagu, a cachorrona predadora, não capturasse o bichinho.
Saí do cômodo para deixá-lo livre para se decidir, mas não adiantou. Voltei ao local e o animalzinho continuava voando e se machucando. A sua luta estava quase perdida, porque se feria e se esgotava. Era urgente fazer algo. Abri um dos basculantes, mas o colibri não descobriu como fazer para escapar pelas fendas.
Agoniada, eu não mais conseguia prestar atenção ao programa no celular. Fernando chegou para me ajudar. Pegou uma pá de lixo, colou a face dela no teto e tentava direcionar o beija-flor para as saídas.
Nisso Pagu voltou para participar, ela, uma caçadora de passarinhos. Para comê-lo, esperava o momento em que as forças do animal se acabassem. E pela extensão do tempo já deveriam estar no fim. Tanto estavam que ele, de súbito, caiu desmaiado sobre a pia. Eu o peguei imediatamente, mesmo com a mão molhada, ensopando-o. Foi a primeira vez em que tive um beija-flor nas mãos.
Emocionada, senti seu coraçãozinho batendo tão freneticamente quanto uma fibrilação ventricular. Seus olhos estavam abertos. Saí com ele e o coloquei sobre uma folhagem no quintal. Optei por deixá-lo em paz e voltei ao trabalho, fechando a porta para impedir a selvageria de Pagu.
Esperei um tempo e fui verificar a situação. O animalzinho estava com postura ativa e na mesma posição em que eu o havia deixado. Passei a mão sobre suas asinhas e achei que, extenuado e com a plumagem molhada, estaria com dificuldade para voar.
Para mim, em vista da sua inexperiência, poderia ser um filhote, mesmo todo emplumado. Pensei em deixá-lo ao sol para que suas penas se secassem. Quando minha mão envolveu seu corpinho pequenino e frágil, suas asinhas elétricas foram ligadas, fazendo-o escapar de mim e sumir veloz riscando o céu junto ao telhado. Para um beija-flor, o céu é o limite!