Mara Narciso

Poeta Agenor Barbosa, esse desconhecido

Publicado em 26/06/2023 às 23:31.

Ivana Rebello e Fabiano de Paula de súbito inventaram o poeta Agenor Barbosa, montes-clarense esquecido no tempo cuja história trazia um detalhe curioso. Agenor Barbosa (1896-1976), sem livro publicado, tem resumo biográfico em Efemérides Montes-clarenses de Nelson Vianna. Sua família mudou-se de Mo<CS10.5>ntes Claros em 1912 e fixou residência em Belo Horizonte, então a nova capital do estado. Ali estavam sendo rasgadas largas avenidas, instalando-se uma elite conservadora vinda do interior. O pioneirismo, para além dos traçados geométricos, pretendia construir uma cidade real com cultura própria, enquanto alguns queriam manter o governo em Ouro Preto.
O nascer de Belo Horizonte descrito com originalidade mostra a dupla de pesquisadores montes-clarenses Ivana Rebello e Fabiano de Paula, contando em livro e com enorme empenho, a história de um mineiro injustamente desaparecido. Flui de maneira convincente, descortinando os primórdios de uma modernidade pretendida, na qual, a despeito de alguns bondes, pode-se ouvir o toc-toc dos cascos dos cavalos cortando a cidade, toda ela amarrada dentro da futura Avenida do Contorno.
Criar como cenário uma capital surgida de um projeto ousado, contextualiza como teriam sido as influências sofridas por Agenor Barbosa, sonetista clássico, publicando em jornais, onde não havia uma página literária e sim notícias e poemas lado a lado. O poeta e redator escreveu também em Vita e Vida de Minas, revistas mineiras e, mudando-se em 1917 para São Paulo, formou-se em direito, chegando ao alto escalão como funcionário público. Conheceu buliçosos escritores, para os quais ser moderno seria romper com os padrões estéticos das criações artísticas fossem elas literárias, cênicas, musicais ou pictóricas.
Os jovens poetas queriam liberdade criativa, por isso a planejaram e a conquistaram. À época o movimento não pareceu tão influente, mas, enquanto os anos apagaram Agenor Barbosa, fizeram crescer o brilho dos “futuristas” como chamavam a si mesmos, opostos aos “passadistas”.
“Uma tristeza mineira numa capa de garoa - Agenor Barbosa: um poeta mineiro na Semana de Arte Moderna” escrito por Ivana Rebello e Fabiano de Paula, prova que a participação do poeta montes-clarense na Semana de 22 teve real importância, desde a organização, junto a Mário de Andrade e Oswald de Andrade até quando, na segunda noite seu poema “Os Pássaros de Aço” foi lido por Menotti Del Picchia, amigo que divulgava sua produção literária.
O misterioso título é descoberto no transcorrer da leitura: o melancólico Agenor Barbosa foi definido como “uma tristeza mineira numa capa de garoa”, algo como um mineiro infeliz com verniz paulistano.
O livro finaliza numa compilação da sua prosa e poesia, nas duas fases, a mais e a menos tradicional. Seus versos com vernáculos difíceis agradavam uma minoria de abastados. Com um dicionário na mão, comprova-se que Agenor Barbosa foi relevante e ainda vive nas páginas luminosas de papel couchê do livro de Ivana Rebello e Fabiano de Paula.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por