O Google diz que pacote é o conjunto de objetos amarrados ou embrulhados simultaneamente; volumes, embrulhos, fardos, trouxas. Fora dessa definição, Milena, minha mãe, que era obstetra, encantava-se com o produto do parto: o recém-nascido.
Quando Vânia, uma técnica em enfermagem que trabalhou décadas no berçário da Santa Casa de Montes Claros, vestindo os neonatos como ninguém mais, minha mãe pegava orgulhosa o resultado daquele exímio trabalho, mostrava à parturiente, incentivava o aleitamento materno ali no quarto e se referia amorosamente à criança como pacotinho.
Flávio Rocha Silveira, meu ex-marido, quando me via empacotando algo difícil dizia que estava mais problemático do que embrulhar em conjunto uma lata de doce, uma rapadura, uma garrafa e um côco. Certamente que o papel se rasgaria nos ângulos de incompatibilidades geométricas.
No mês do Natal, ainda que o dinheiro esteja escasso e a alegria chegando tímida em quantidades diminutas, os pacotes começam a circular. Quem quiser encontrar preço justo e o produto certo deverá se apressar. Caso se demore, encontrará restolhos devolvidos após exaustivas escolhas.
Quando uma criança se depara com um pacote, seus olhos se iluminam, querendo que seja um brinquedo e receber o que esperava é festa inesquecível. Mesmo gostando um pouquinho de ganhar roupas, quando chegam sem brinquedo há decepção.
Eu mesma estou vendendo, empacotando e enviando o livro “Segurando a Hiperatividade” para todo o Brasil. Embalo dentro de um envelope pardo, reforçado com fita adesiva. Quando são mais exemplares, o reforço é ainda maior para evitar avarias pelo caminho.
Quando são mais de três unidades construo uma caixa, e assim, há quase dois meses, estou fazendo esse serviço nos intervalos das escritas. Pelo WhatsApp recebo o endereço e envio os dados para transferência do valor, copio no pacote destinatário e remetente, e meus pensamentos viajam no livro que só existe enquanto estiver sendo lido.
Enquanto penso no impacto causado ao leitor ao conhecer a história do meu filho Fernando Yanmar, portador de TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade –, vou empacotando e cantando “tem que fazer mamadeira todo dia, além de trabalhar como empacotadeira das Casas Bahia”, como diz Chico César em “Mama África”.