Mara Narciso

Nonagenários de peso

Publicado em 12/06/2023 às 20:48.

Os dois escritores possuem idade avançada e apenas por isso já seriam merecedores de respeito e consideração. Para além de qualquer classificação da Organização Mundial de Saúde, os nonagenários aqui homenageados são autores na ativa. Afora alguma dificuldade de locomoção, agravada pela chikungunya que os vitimou, estão plenos em suas atividades intelectuais.

Amelina Chaves, 91 anos, 15 filhos, 35 livros publicados, nascida no Sapé, bairro de Capitão Enéas em 26 de outubro de 1931, tornou-se Doutora Honoris Causa da Unimontes em 2019.

Petrônio Braz, 94 anos, 12 filhos, 24 livros publicados, nascido em São Francisco em 12 de novembro de 1928, tornou-se Doutor Honoris Causa da Unimontes em 2021.

Amelina Chaves é de família humilde e as primeiras letras foram-lhe ensinadas pela sua mãe. Após ler Monteiro Lobato, quis ser escritora. “Como e bebo literatura” e “a minha faculdade é o sertão”, disse ela.

Petrônio Braz, de família de políticos, aos 27 anos tornou-se prefeito da sua cidade natal. Estudou em colégios de Januária e de Belo Horizonte e fez o curso de agrimensor em Viçosa. Em 1979 formou-se na Faculdade de Direito do Distrito Federal - UNICEUB. É jurista de prestígio nacional.

Bonita, pequena, com pele clara, aos 13 anos Amelina foi raptada pelo futuro marido Almir Chaves, um moço alto, chefe do setor de segurança da Central do Brasil, que queria antecipar o casamento. Este aconteceu em 13 de maio de 1948. Com tantos filhos que logo chegaram, a moça teve de trabalhar duro, mas se distraia fazendo bonecas de pano.

O escritor Petrônio produziu livros meio a meio: 12 na área jurídica e 12 literários entre dicionário, biografias de vários autores em um só livro, poemas e romances.

A escritora Amelina fez poemas, romances com toques de erotismo, biografias de Téo Azevedo, Darcy Ribeiro e Petrônio Braz e livros infantis dando voz a personagens de todas as classes sociais. Sabedora das suas limitações, conseguiu superá-las com trabalho e senso crítico aguçado.

Petrônio Braz fez várias edições do “Serrano de Pilão Arcado: A Saga de Antônio Dó”, um épico sobre o lendário herói-bandido, já roteirizado e logo será filme. Outro romance de sucesso foi “Jandaia em tempo de seca”.

Essa dupla de peso, colocada em paralelo, não pesa para seus familiares, porque é autônoma e motivo de orgulho. Têm neles próprios o peso da experiência, sabedoria, títulos, homenagens, prêmios e reconhecimentos em vida. A idade pode lhes pesar, mas não os anos. Os livros em si são objetos pesados, mas, produzi-los traz leveza, e não carga, porque as ideias saem das suas mentes, alcançam outras e reverberam-se em realização.

Com inícios de vida tão díspares, Amelina Chaves e Petrônio Braz, por terem escolhido a literatura como derivativo, acabaram se encontrando na Academia Montes-clarense de Letras, para gáudio dos seus leitores e admiradores.

Vendo essa dupla desafiando o passar do tempo, produtiva mais de 30 anos após ser considerada idosa, a concepção de velhice ficará mudada para sempre.

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