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Quarta-Feira,30 de Outubro
Mara Narciso

Meu nome é Gal

Publicado em 14/11/2022 às 21:46.

Não foi “Meu nome é Gal” a primeira música de Gal Costa que ouvi. Foi “Cinema Olympia”, uma música gritada em voz aguda, num LP, tocando na casa de vovó, sob o comando de Tio Tom. Beto Guedes parece ter levado o disco. Não me esqueci dessa escuta inicial e de como me senti magnetizada.

Quando começou a cantar, publicamente, fazendo parte do seleto quarteto de baianos Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gilberto Gil, seu amigo Caetano, que escolheu o nome Bethânia para batizar a irmã, ao votar o nome artístico de Gal Costa, registrada Maria da Graça Costa Penna Burgos, foi contra o nome sugerido, alegando que gal é a abreviatura de general, e o presidente da Ditadura Militar era o General Costa e Silva. Foi voto vencido e o errado deu certo.

“Meu nome é Gal/ E desejo me corresponder/ Com um rapaz que seja o tal/ Meu nome é Gal/ E não faz mal/ Que ele não seja branco/ Não tenha cultura/ De qualquer altura/ Eu amo igual/ Meu nome é Gal... tenho 24 anos” - 1969; “Você, precisa saber da piscina, da margarina, da Carolina; você precisa saber de mim, precisa saber do que eu sei, e o que eu não sei mais”...

Quando Gal Costa gravou “Ovelha negra” de Rita Lee, não quis citar o pai ausente, então cantou “foi quando ‘minha mãe’ me disse filha, você é a ovelha negra da família”... Desculpem-me o politicamente incorreto de antes, e que não pode ser mudado.

A cantora da Tropicália, dos Doces Bárbaros, da Contracultura e de todos os estilos por mais de meio século, foi quem mais cantou temas de novelas e carregou consigo a rebeldia juvenil. Madura, num protesto para dizer que era dona do seu corpo e ninguém poderia mudar isso, cantou com a blusa aberta, ostentando os seios nus.

Participou do jingle “Lula lá” de 1989, e da nova versão, para este ano. Nas mais recentes postagens de Gal Costa, ela pedia às pessoas para escolherem bem o presidente do país, e para não deixar dúvidas fez o L com a mão.

Morreu Gal Costa, no dia nove de novembro de 2022, aos 77 anos. A sua voz límpida que diziam ter substituído Elis Regina na afinação e extensão vocal se calou. As listas de “trilha sonora da minha vida” é extensa e serviram de pano de fundo para muitos começares e acabares.  

De carreira longa e fecunda, a baiana de Salvador nascida em 26 de setembro de 1945, jamais se calará em relação às bandeiras defendidas pelas suas músicas.

Foi compositora e multi-instrumentista. Conheceu seu filho Gabriel Costa Penna Burgos quando ele tinha dois anos. Adotou o menino e o deixa órfão aos 17 anos. Com vida afetiva discreta, rompeu com a também cantora Marina Lima quando esta revelou numa entrevista: “perdi a virgindade com Gal”. Lúcia Veríssimo também foi namorada de Gal Costa. Wilma Petrillo, sua companheira por 24 anos, enviuvou-se.

Grande, imensa e imortal, Gal Costa parte para sempre, deixando como herança universal uma atuação inesquecível que ecoará para sempre, com toda a graça do seu nome, estilo e voz, um alguém que cantou bem todos os gêneros de todas as épocas.

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