Mara Narciso

Merenda

Publicado em 17/03/2025 às 19:00.

Depois de ter vencido e apreciado alguns dos livros do escritor paulistano Paulo Ludmer, eis que me surge outro de nome bastante sugestivo: “Merenda”. Aos esfomeados, venham se banquetear. Sua escrita funciona como comunicação de resultados. Navega-se em uma casca de noz ao sabor da imaginação do autor e se aprecia o balançar das ondas.

Sua linguagem poética somada ao rigor literário são acréscimos ao paladar, e nem mesmo palavras difíceis para o leitor médio e habituais em sua linguagem travam a leitura, incomodam ou denotam interesse em se mostrar. Caso tenha acontecido, foi lá atrás, em poemas indecifráveis, que ele mesmo disse serem palavras com sonoridade e ritmo, sem qualquer significado especial em conjunto. Aquele que não quiser perder nada, poderá vasculhar os dicionários do Google, comandados pela IA – Inteligência Artificial.

Há que se sentir desafiado para que a apreciação seja completa. Quase todos os contos estão na primeira pessoa, mas até quando quer se passar por um narrador de conhecimento mediano, o disfarce não se sustenta, pois, quando não é aparente no vocabulário, o é, através da estrutura da frase.

Aqui e acolá, Paulo Ludmer se mostra memorialista, transformando um momento de sua vida em uma história independente, com vestes de personagens outros, mas com toques degustáveis de confissão e revelação.

Os contos são narrados de forma leve, sem ferir os ouvidos. Fala baixo, com delicadeza, mostrando sua verdade e um erotismo tímido e forte. Se necessário, rasga o verbo. Sua escrita mostra intimidade com personagens de vários extratos sociais, levando sua história para dentro de uma casa humilde, com bastante verdade.

São 126 páginas e 13 contos, entre os quais destaco “Merenda” e “Bicicleta”. Meu conhecimento técnico não me permite falar em qualidade e forçadamente empurro aqui uma expressão: “restos não são presentes e migalhas não são banquetes”, enquanto “Merenda” é uma celebração dos sentidos, os cinco existentes e os que serão criados, porque há um Paulo Ludmer futurista. Em “Por hoje basta”, um aluno trabalha com máquinas 3D, que, ao copiar partes do corpo humano desperta pensamentos filosóficos do ser, existir e sentir.

Ludmer tem credenciais como acadêmico da Academia de Letras do Rio de Janeiro, engenheiro de energia, professor universitário, psicodramatista, músico, artista plástico e escritor. Sua atividade literária, para a qual tem poderosa cabeça e atuação com método – Literatura de Concisão que “diz tudo em um mínimo para não fatigar o leitor” –, estava em busca da plenitude, estado que atingiu e permaneceu, com novidades a cada fornada. Com seu domínio da língua faz o que quer com o pensamento, a linguagem e as palavras, transmitindo de forma harmoniosa seus pensamentos.

De repente um susto: em uma lista de nomes de autores premiados e reverenciados está o meu como incentivadora de sua escrita. O melhor de tudo é a certeza de sorver bons livros a cada safra de sua generosa produção.

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