Mara Narciso

Jubileu de Ouro

Publicado em 09/09/2024 às 19:00.

O Jubileu de Ouro da formatura da primeira turma de Medicina da Famed foi um acontecimento, mas muito mais desafiadores foram os feitos dos 42 jovens que adentraram o curso que não tinha nem sequer uma hospedagem. O espaço lhes fora emprestado pelo Colégio Marista São José e lá aportaram. Era abril de 1969 e minha mãe Maria Milena Narciso Cruz, aos 34 anos, três filhos de 14, 13 e 05 anos, estava entre os meninos de 18 a 20 anos. Maria Christina Peres Amaral era a outra mulher dessa turma masculina. A falta de estrutura, a maneira improvisada de fazer não tornavam deficientes os ensinamentos e o aprendizado, devido à sede de saber.

Milena terminou o curso aos 40 anos e em primeiro lugar, recebendo o Prêmio Carlos Chagas. Não parece, aos olhos de hoje, um grande feito, mas diante da rigidez da sociedade patriarcal da época, uma mulher sair, algumas vezes à noite, deixando filhos e marido em casa, era desafiador. Vivia-se a repressão do AI5.

A criação da Faculdade de Medicina do Norte de Minas, pertencente à Fundação Norte Mineira de Ensino Superior - FUNM, que em 1989 transformou-se na Unimontes, foi o resultado de um sonho delirante de Mário Ribeiro, João Vale Maurício, Hermes de Paula, José Rametta, Aderbal Andrade, Maria de Jesus Santos Rametta e Cláudio Pereira; os dois últimos são os únicos remanescentes.

No dia 30 de agosto de 2024, a turma que se formou em 1974 estava no auditório principal da Unimontes para festejar o cinquentenário da histórica formatura de uma turma que vivia em suspense, sem saber se terminaria o curso, em vista de ameaças de fechamento da faculdade a qualquer momento. Ao final dos seis anos, a Escola não era reconhecida pelo Ministério da Educação e Cultura, o que foi acontecer, após quatro meses, através da ação firme de Itagiba de Castro Filho, Diretor da Famed.

Entre os egressos da Famed, doze estavam ausentes para sempre. Seus rostos de formandos foram vistos na tela. Caso fosse viva, Milena estaria com 90 anos, idade da sua iminente professora, pioneira no norte de Minas em Ginecologia e Obstetrícia, desde 1963, Maria de Jesus Santos Rametta, ali presente. Também tive a graça de tê-la como professora. Os demais ex-professores ocuparam a mesa de honra: Maria Inês Tanure, Cláudio Pereira, João Jaques Godinho e João Batista Silvério.

Discursou sobre as dificuldades da primeira turma o Reitor Wagner de Paulo Santiago, em um interessante passo a passo. Do lado dos egressos falou de forma emocional Raimundo Santos Sobrinho, evidenciando a dureza daqueles tempos.

Foi uma noite de Hino Nacional, discursos, flores, placas, vídeos, memória, emoção e saudade. Rui Barbosa, colega de turma de Milena, entregou a ela orquídeas, através da minha pessoa. Respeitosamente, revejo os que chegaram primeiro, abrindo caminho, rasgando a passagem com as mãos numa ação heroica, ao mesmo tempo em que eram considerados príncipes pelas moças da cidade: o lado lúdico de uma situação árdua e penosa.

É tempo de celebrar por estarem aqui. Estudaram, venceram e estão de pé. Os anos pesam, mas a glória de estar vivo é um bom prêmio. Viva a turma de 1974!

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