Mara Narciso

Faz de conta

21/12/2021 às 07:25.
Atualizado em 29/12/2021 às 00:35

Uma multidão acredita numa realidade paralela, negando a verdade. Vive num faz de conta, evita racionalizar e diz não à ciência. Repete absurdos em uníssono até acreditar neles, enquanto isso, me lembro dos faz de conta do caminho.

“Faça de conta que o tempo passou, e que tudo entre nós terminou, e que a vida não continuou pra nós dois, caminhemos, talvez nos vejamos, depois”, que Nelson Gonçalves cantou soberbamente.

No mundo afetivo o faz de conta pode formar casais por conveniência, que vivem vidas paralelas por anos. Ou “o nosso amor a gente inventa”, como versejou Cazuza.

No setor de serviços contrata-se, paga-se o combinado, o trabalho pode não ser bem-feito e o prestador não vem refazê-lo. Diz-se galhofeiramente: “você faz de conta que me paga e eu faço de conta que trabalho”.

Vem-me à mente o mundo encantado de José Bento Monteiro Lobato que influenciou gerações. As crianças começavam pelos seus livros e se tornavam leitoras. Na casa do meu avô, Petronilho Narciso, havia a coleção completa e eu mergulhei fundo nela.

O que mais me hipnotizou foi “A Chave do Tamanho”. Era fácil gostar da faladeira boneca Emília, que se comportava fora dos padrões, afinal, não sendo gente era livre de convenções.

Em 1933, atos, falas e escritos racistas eram mais tolerados que hoje, mas Monteiro Lobato foi contundente acerca de Tia Nastácia. A afrodescendente fazia os quitutes e o livro se chama “Dona Benta: comer bem”. E mais: “nem Tia Nastácia que tem carne preta”; “... esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão” – Caçadas de Pedrinho.

Jamais deveremos normalizar esse tipo de preconceito, que é péssimo para todos, no entanto, fazendo-se essas considerações, seus livros são úteis.

Brincar pede imaginação: boneca, casinha, carrinho, avião. A criança sabe que é de mentirinha, finge que são reais e se diverte com isso. Os contos de fada são mundos mágicos de faz de conta, com suas bruxas, fadas, animais falantes, pessoas que voam.

Ter boa infância é sonhar, viver fantasias, inclusive Papai Noel. Uns acham que se deva tirar essa ilusão da criança, afinal o “Bom Velhinho” não existe e não dá presente para todos. Outros advogam que se deva manter em cada adulto sua porção criança, para escapar da casmurrice. Quem terá razão?

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