Mara Narciso

“Escrituras Catrumanas”

Publicado em 04/11/2024 às 19:00.

Mário Ribeiro Filho, Marucho, Ucho, tem escrita firme e atraente, para a qual fazem-se fila para apreciar. Mário Ribeiro, médico, ex-prefeito, nome do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina do Norte de Minas, do Hospital de Clínicas, do Aeroporto de Montes Claros é seu pai. Darcy Ribeiro, mundialmente conhecido pelos feitos políticos, educacionais, antropológicos e literários é seu tio. Vindo dessa linhagem, Ucho Ribeiro é uma realidade no metiê de escritor. Sendo assim, é agradável se sentir embalado pelo encantamento que vem de seu livro, e o caminho farto desse bem-estar tem nome: “Escrituras Catrumanas”. Nele, o autor apresenta sua versão dos fatos sagrados acontecidos, explicavelmente, no norte de Minas. Joga o leitor dentro do Gênesis, e para não deixar dúvida sobre como era o mundo antes da luz, o papel dessas iluminadas páginas é preto, com letras brancas, uma arte gráfica poderosa de Chorró Moraes. Após ser feita a luz, e a terra se separar da água – Rio São Francisco -, em pleno sertão mineiro, os personagens recriados pelo escritor, inspirado nas Sagradas Escrituras são materializados soberbamente por Silvana Soriano, uma maga da xilogravura. Há um ajustamento de imagens e texto semelhante a um beijo de ventosa sobre o azulejo: divertida perfeição. Enquanto mostra o universo catrumano - termo que adjetiva coisas da região, o qual insistem, alhures, que seja pejorativo - brilha com galhardia e humor. O começo dos tempos por aqui foi movimentado e sedutor, impulsionado por inveja, intriga, música, dança, desejo e atos profanos, no exato ponto da nossa humanidade. Palavras regionais pretéritas resgatadas por Ucho, garantem riso a cada passo, e até mesmo contentamento. A narrativa é pitoresca, com figuras apresentando comportamentos baseados na cultura local. As imagens prestam serviço ao texto, tornando tudo mais cômico, burlesco e divertido. Não são seres estanques; eles se mexem na página, são vivos e autônomos. Ali foi criado um novo gênero literário, e muito bem fará o autor, caso se decida por fugir de definições acadêmicas. Atrai e estimula de forma lúdica e eloquente. Mal se lê a primeira página, e se é cooptado a não largar a leitura antes do término. Todos o lerão de uma vez só, porém, com certo grau de sovinice, por receio de ver findar seu maná. Aí, ainda lhe resta a releitura, para fazer um repasto contido, degustando ingredientes catrumanos, de coisas, gentes e sabores do norte de Minas. Na obra, o que é regional, por estar fora do lugar, causa riso. O autor mostra-se um bruxo ao remexer fatos e personagens conhecidos, ao misturar tempos e lugares, tornando local o que é universal. Eis a graça. Ali, mostra uma pegada de escriba experiente, a ponto de o leitor querer mais dessa literatura. Sua escrita vem se destacando on-line, porque, ao contar sua história, acontecida em parte na porta da casa de sua infância, envolve saudade coletiva e desperta aplausos. É literato nascido pronto, com reconhecida envergadura, pois que recebeu o dom geneticamente, e mais, soube desenvolvê-lo. Hoje vamos de Ucho!

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