Mara Narciso

Dia Internacional da Mulher

Publicado em 10/03/2025 às 19:00.

O dia oito de março me incomoda desde quando se popularizou e passou a ser “comemorado”. Algumas mulheres gostam de ter um dia para elas, com homenagens, mesmo sem a dispensa da interminável jornada tripla de toda uma vida.

Minha mãe Milena, nascida em 1934, dizia que na próxima encarnação viria homem, que tudo podia, enquanto a mulher tinha normas rígidas a seguir. Assegurava que ao se casar, a mulher saía debaixo do tacão do pai, para entrar debaixo do tacão do marido. Expulsou-me da cozinha, porque fazer comida é serviço desvalorizado, e mandou-me estudar. Ouvia preleções pró “Revolução Militar”, vindas do meu pai Alcides em todos os almoços, e votava no MDB. Quando surgiu o PT, além de votar, pedia voto para Lula. Em 1978, numa viagem à Brasília, eu clicava meu irmão Helder diante do Palácio da Alvorada, com pai presente, e ela disse ter saudades de quando qualquer brasileiro podia ser presidente do Brasil. Eu fui criada por Milena e a submissão feminina não é minha.

No Dia Internacional da Mulher é risível ler como os homens nos veem. Para eles, o que se destaca em nosso gênero é a subserviência disfarçada de beleza, jovialidade eterna, feminilidade, força para o trabalho – o que é bem conveniente, instinto maternal, que engloba mulher parideira, trabalhadeira e acéfala – “sem gosto ou vontade, sem defeito nem qualidade” – Mulheres de Athenas; além da face dupla de ser “mulher honesta” e ao mesmo tempo responsável por distrair o marido na cama, buscando a fidelidade dele, porém, sem ser despudorada.

Para o homem atual a mulher ainda é uma espécie de bibelô, um objeto usável e descartável, cuja existência pode inspirar o feminicídio, se diante de uma contrariedade. O “proprietário” não aceita um não, constituindo-se um desafio penal.

Por ter em média 35% menos força e ser 13% menor que o homem, a mulher é uma presa fácil para maus tratos, daí a necessidade da Lei Maria da Penha e as Medidas Protetivas, fruto de ação governamental.

Mesmo tendo de ler mensagens imbecilizantes e patéticas, com entrega de bombons e flores virtuais, não sou contra o Dia Internacional da Mulher, ampliado para um mês inteiro, porque estão em risco direitos adquiridos, em vista da amplificação e extensão da Extrema Direita em todo o mundo. É um dia de lutas necessário para a discussão do problema, elaboração de leis e políticas públicas para proteger o “sexo frágil”, pois, comunidades civilizadas protegem seus indivíduos.

Mais do que civilizar os homens, é preciso ensinar as mulheres a não educarem seus filhos com visão machista e opressora, e sim para fazerem com seus pares uma equidade entre direitos e deveres, com ambos cuidando do dinheiro, da casa, da prole e da coletividade.

Nessa pauta, tem grande importância ações progressistas de setores da sociedade, assim como mulheres atentas em buscar, não a igualdade física com os homens ou serem iguais ou mais que eles, mas terem os mesmos direitos constitucionais: direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Quando isso acontecer, podem acabar com esse dia, hoje tão necessário.

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