Um fato antes raro está se tornando algo comum: em alguns meses, três pessoas próximas faleceram e foram cremadas. Após 24 a 72 horas de refrigeração, o corpo dentro do caixão, sem plásticos e metais, é submetido à temperatura de mil graus, depois os ossos são triturados e os gases filtrados e processados. Em média, resulta em 1,5 kg de cinzas a um custo de R$ 6 mil a R$ 20 mil.
Algumas pessoas têm preferido ser cremadas a ter um jazigo perpétuo cuja visitação dura no máximo duas gerações. Honrar o passado do morto e lhe prestar homenagens não perduram, logo vem o esquecimento.
O respeito e veneração aos mortos existem em todas as culturas e causa repulsa a profanação a corpos e túmulos. Há quem estabeleça na casa um local de culto ao falecido com velas, flores e fotos. A cada aniversário de morte é nova consternação.
Outros levam a urna até a beira do jazigo e não fala mais nisso, ignorando fatos e datas. A lápide, no caso, significa colocar uma pedra em cima, para esquecer.
Cada morte é vivida de forma distinta, de acordo com a perda e a causa do óbito, obviamente. O sepultamento, que, tempos atrás, era momento de gritos e desmaios, tende a se tornar, a cada dia, menos dramático.
Novas práticas mortuárias estão tendo lugar nesse ocidente que evita o tema, e vive o hoje como se nunca fosse morrer. Falecimentos, mais frequentes agora, vêm junto à opção de cremação. Pode-se imaginar como se dará tal ritual, que tem a vantagem de o corpo não sofrer a putrefação, coisa pensada, ainda que muitos evitem tal imagem.
A pessoa escolhe ser cremada e quem e como destinará suas cinzas. O resultado do procedimento cabe numa pequena urna metálica. É proibido manter os restos mortais em casa, e a determinação para o “post mortem” costuma ser jogar as cinzas na natureza, sendo que a maioria quer ser lançada ao mar.
Tal momento mostra um lado não tão teatral da morte, com presenças, velas, flores e fotos de quem partiu, no entanto, sem a comoção do fechamento da urna e da descida do caixão à tumba.
É menos triste e tão figurativo quanto diz o Evangelho: “és pó e ao pó voltarás”, com preces, cânticos, lágrimas e toda a simbologia da perda, porém, no adeus, a sublime visão de cinzas ao vento, voando céleres para o infinito.