Para discordar do Estatuto da Infância e da Adolescência que quer crianças na escola, algumas pessoas de tempos anteriores se vangloriam em dizer que trabalharam antes dos 14 anos e não morreram. O que faz uma nação são boas escolas e livros para todos.

Milena, minha mãe, era uma médica louca por livros, e contava que aos 6 anos se aventurava na pia da cozinha sobre um caixote para lavar vasilhas e ajudar minha avó. Nova demais! Não sei como não se acidentou com copos e facas.

Quando eu tinha uns 10 anos, nas poucas ocasiões em que não havia quem fizesse o serviço pesado em casa, minha mãe cozinhava, lavava as panelas, eu as enxugava e Helder, meu irmão, limpava o fogão. Eu invejava o trabalho dele, porque fazia o serviço num instante e ia brincar, enquanto eu tinha de esperar pelo término da lavação.

Minha mãe cozinhava bem como quase todas as mulheres da sua época, mas não se sentia valorizada nesse metiê, assim, costumava me desestimular nas atividades da cozinha. Poucas vezes na vida fiz um almoço ou jantar. Sempre tive quem fizesse isso para mim, pois detesto cozinhar.

Um dia em que eu não leia, não aprenda e não escreva não existiu para mim e foi perdido. Com a chegada da pandemia, declarei minha aposentadoria, dispensei a cozinheira e meu filho Fernando tomou conta da cozinha: ele faz a comida e eu lavo o paneleiro. E põe panela nisso. Desorganizado, ele não mede esforços para sujar tudo que precisa. Felizmente, tem melhorado. Em uma hora de trabalho serve o almoço para as cachorras Frida e Pagu e me chama para almoçar.

Após o almoço vou arrumar a cozinha. Mas, antes disso, organizo tudo, passando água, tirando o grosso, colocando de molho, organizando o ambiente. No começo, eu demorava uma hora e meia no serviço. Agora, entre lavar utensílios, depois a pia, o fogão, limpar o forno micro-ondas, armários e geladeira, não chega a uma hora.

Não sou exímia em nada. Nem quero ser. Ligo o dispositivo na Rádio Namorada dos Montes, na Rádio Universitária Unimontes, ou em algum canal da internet e arrumo tudo com satisfação. Sinto-me bem em limpar meu lar. Depois é tomar banho e ir estimular o cérebro com leituras e escritas. Essa distribuição do tempo, em especial quando faço uma caminhada nalguma hora do dia, enche-me o corpo de força e o coração de alegria.

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