Mara Narciso

Aqui cor e alegria são arte

Publicado em 20/03/2023 às 20:30.

Antônio Carlos Mendes de Oliveira, nascido em 21 de maio de 1963, engenheiro mecânico de Francisco Sá, amorosamente Brejo das Almas, foi vítima da cerveja Belorizontina da Cervejaria Backer, contendo dietilenoglicol no réveillon de 2019. Dez pessoas morreram. Antônio esteve hospitalizado de três de janeiro a 15 de junho de 2020. Como sequelas ficaram cegueira, perda da função renal e a espera de anos para se levantar e andar. Antônio era Diretor de Gestão da Mannesman.

Com a vida devastada, o guarda-chuva da arte protegeu sua esposa Kenny Vanessa, de parte da tempestade. A arte cura e afugenta a loucura. A troca da broca – foi dentista durante 30 anos - pelo pincel foi mais que terapêutica, foi sua salvação. Diante do desafio da tela branca, contrastante com a escuridão da perda total e definitiva da visão do seu marido, ela buscou redenção nas artes plásticas multicoloridas, reencontrando sua afeição pelas tintas da juventude, dom herdado da mãe Celina Campos.

Seu tema são rostos de mulheres nos quais a artista imprime personalidade na forma de adereços e ornamentos como véus, turbantes africanos, borboletas, passarinhos, flores e outros agentes da botânica e cruzes em um leque de cores. Mesmo sem boca e sorrisos as faces com cabelos de raiz transmitem alegria e serenidade, dois ingredientes indispensáveis na passagem do furacão.

A reutilização de materiais dá cara nova ao que parecia inútil, criando o belo a partir de miçangas, paetês, vidrilhos, pérolas, amuletos, brilhos, artigos de armarinhos, materiais inesperados, dando visibilidade a sua criatividade e originalidade. O reuso de brincos e outras bijuterias que seriam descartadas tornam ainda mais interessante a sua arte.

Os adornos dos rostos são alegorias contidas, enfeites com harmonia e equilíbrio estético. A sugestão de um abraço pode ser vista em duas imagens. Há um desenho a lápis da sua face aos dois anos. Em volta da criança, coisas de brincar, inclusive minibonequinhas que encantam quem as contempla.

A imaginação viaja na construção das suas imagens, e dela vão surgindo personagens como a Virgem Maria, uma irmã, algum conhecido ou um ser que só existe na tela. A inspiração chega em lampejos do mundo real para criar figuras de sonho.

Num dos quadros pode-se ver uma coroa que sugere pontas da fantasia de um arlequim sobre um véu azul e asas de prata sugerindo liberdade, quando a vida real sufocava em nível de afogamento.

Veja sua mostra na voz da sua irmã, a poeta Karla Celene: “O belo, o singelo, a profundidade de uma alma; formas, cores, traços, sentimentos fecundos de sensibilidade, feminilidade e poesia no universo de Kenny Vanessa”.

No mês da mulher, a exposição tem rostos femininos feitos por uma mulher convidada a acontecer no Centro Cultural Hermes de Paula. Kenny Vanessa, que já expôs em Belo Horizonte, aceitou e colocou suas telas em evidência. A “Exposição Um Outro Olhar” ficará disponível para deleite público até o dia 31 de março. Ver é sentir e quase ouvir essas mulheres.

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