No dia 1º de fevereiro de 2022, eu fazia doce de araçá pela manhã, quando surgiu dor intensa na região lombar, quadril, joelhos, tornozelos e pés e as pernas travaram. Terminei o doce e na sequência o corpo todo doía e pedia cama. Estava com febre de 39ºC. Pensei em Covid, mesmo vacinada. Sem sintomas respiratórios, exceto dores nas costelas, a saturação estava normal, enquanto o mal se espalhava. Uma fraqueza muscular apoderou-se de mim. Era uma fadiga tão grave que eu não conseguia mudar de posição na cama, onde fiquei por 15 dias.
A cabeça doía forte, por isso tomei dipirona, mas as dores não souberam disso. Eu sentia enjoo, que ainda aumentaria. Almocei naquele dia, mas noutros quase não consegui, porque, além da náusea, aftas se espalharam pela boca, impedindo-me de mastigar e engolir, inclusive água. O cansaço e a dor muscular não me deixavam segurar o garfo, escovar os dentes e nem mesmo contar as gotas do analgésico, por falta de força e habilidade. Depois surgiram conjuntivite, pálpebras inchadas, músculos oculares doendo e vertigem. Qualquer ação era um desafio.
No quinto dia, Kátia, minha irmã de consideração trouxe-me o Dr. Thomás Colares, geriatra. Ele pediu exames e pensou em dengue. Era sábado, eu estava prostrada e tonteava caso tentasse me recostar na cama. Tomava água de coco e chá, mas estava desidratada e o médico me passou seis frascos de soro intravenoso para tomar em casa.
O sangue foi coletado no domicílio por um funcionário do Laboratório Exame. Fraca, tentei preencher um formulário de saúde pública sobre o capô do carro e não consegui. Tive de me sentar. A única coisa que me servia era a cama. O teste de covid foi negativo e o de chikungunya – aquele que se dobra – deu positivo. As plaquetas estavam baixas.
Uma vermelhidão me atacou a pele com lesões papulosas, pruriginosas como um sarampão generalizado. As articulações inflamadas e doloridas perderam suas funções. As mãos mudaram de cor e forma e não fechavam. Não conseguia andar, em especial descer escadas, devido às restrições dolorosas dos pés inchados. Toda a extensão dos ossos, tendões, nervos e músculos estavam comprometidos, havendo dormência nas mãos, principalmente pela manhã.
A dra. Érika Senna, reumatologista, me passou vitaminas B em altas doses e corticoide, o qual fiz uso por 6 meses. O desmame foi gradual, mas ainda assim as dores voltaram. Foram feitos novos exames em busca de doenças autoimunes. Um processo inflamatório não específico foi detectado. Depois foram repetidos e, para além das sequelas de dor, fraqueza e perda da função, nenhuma doença nova fora desencadeada pelo vírus. Inapetente, emagreci.
Um surto de chikungunya, uma virose, está varrendo Montes Claros neste verão, e hoje, treze meses após o início dos sintomas, tenho por sequela dores articulares cíclicas em cotovelo, mãos e pés que nunca me abandonaram. Essa doença incapacitante é grave e prolongada. Exterminem o Aedes aegypti, mosquito transmissor, e se preparem para a guerra!