A pandemia da Covid 19 reforçou um modo de vida que já tinha uma infinidade de adeptos mundo afora. Se antes do vírus se infiltrar em nossa sociedade a vida já era em parte vivida virtualmente, no novo normal vivido neste último ano esse modo de vida foi ampliado.
Se antes as pessoas já buscavam apenas os relacionamentos através das redes sociais, agora a vida acontece quase que toda no mundo virtual. Mais do que relacionamentos fugazes, os relacionamentos familiares, os relacionamentos profissionais, o trabalho do dia a dia e até a nossa alimentação passa pelo mundo virtual, para que possa de fato acontecer.
E a alimentação? Passou a ter nos sistemas de delivery o seu fiel escudeiro. Para não fugir à regra, a movimentação financeira, que antes já era feita em grande parte de forma virtual, com o surgimento do PIX, se mudou de vez para a virtualidade, com brasileiros abolindo não apenas cédulas e moedas, mas também os cartões de débitos, porque os cheques, antes disso, já eram verdadeiros “dinossauros”.
Não sabemos ainda como será o pós-pandemia e se o tão decantado “novo normal” vai de fato existir, mas é certo que a vida nunca mais será a mesma depois de visitarmos a virtualidade e vivermos lá por muitos meses.
Talvez porque no mundo virtual se tenha a falsa sensação de que ninguém se machuca ou de que as relações não provocam feridas, ou mesmo de que se tem mais dinheiro na conta do que fato tem, o fato é que essa experiência seguirá conosco... Mas se o mundo virtual garante segurança, leva a falsas emoções, a uma vida de ilusões. Portanto, é preciso ficar atento, porque quem, no pós-pandemia, se apegar a essa fórmula de vida, vai descobrir ao final que nunca esteve de fato seguro e, o mais cruel, vai perceber que nunca viveu de fato.
Como diz o grande Fernando Pessoa em Autopsicografia “O poeta é um fingidor/finge tão completamente/que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente(....)”. Que no pós-pandemia, então, nós tenhamos a capacidade de sermos, mais do que nunca, poetas da vida real e presencial, pois só assim conseguiremos curar as feridas de tempos tão terríveis vividos no agora.