O aumento do número de casos de leishmaniose em Montes Claros revela a ineficiência do poder público municipal em promover políticas de saúde para prevenção da doença que, na semana passada, causou a morte do jornalista Artur Leite. Reportagem publicada nesta edição de O NORTE aponta que de janeiro a agosto deste ano foram registrados 92 casos da doença, contra 22 em 2017. Com a morte de Artur Leite, são pelo menos quatro óbitos neste ano. No entanto, o quadro pode ser mais grave, uma vez que a Prefeitura de Montes Claros não repassou ontem números atualizados sobre a doença. O último boletim fora liberado à reportagem em agosto último. Além do indício de mascarar números, atribui-se à prefeitura denúncias de não implementar de maneira legal medidas de prevenção à doença. Em vez de recolher os cães de rua doentes de leishmaniose e tratá-los, órgãos de zoonoses estariam sacrificando os bichinhos, em desacordo com a lei de proteção aos animais.
A prevenção, que deveria envolver a castração para diminuir a população canina de rua, não acontece. E a situação de sujeira da cidade torna-se um prato cheio para a reprodução do mosquito palha, inseto vetor da doença, que pica o cão doente, hospedeiro do calazans, e em seguida pica o homem, infectando-o.
Montes Claros, como provam matérias diárias de O NORTE, está repleta de terrenos abandonados, denúncias constantes de moradores indignados. São locais repletos de lixos e acúmulo de matéria orgânica, ideais para a reprodução do vetor.
Enquanto as autoridades públicas municipais não enxergaram esse cenário de risco e não buscarem medidas urgentes para proteção da população, muitas pessoas ainda poderão pagar um preço alto por tamanha irresponsabilidade. A doença, que causa mortes e sequelas, deixa vazio e sofrimento imensos nas famílias, além de onerar os cofres da saúde pública. A prevenção depende do poder público e a população, que paga os impostos, espera que ele cumpra o dever.