O mundo parou em função da pandemia da Covid-19. O objetivo de cidades inteiras fechadas e milhões e milhões de cidadãos enclausurados em suas casas e sem seus medos sempre foi a proteção da vida. Mas, à margem da atenção que a pandemia recebeu, ficaram um sem número de pessoas que, silenciosamente foram vencidas pela dor, à espera de uma cirurgia eletiva. Cirurgias que, de acordo com o sistema de saúde, podiam esperar um mês, dois, anos a fio para serem realizadas.
As políticas públicas e, principalmente, os gestores estaduais e municipais não foram capazes de enxergar esses cidadãos. Mais do que isso, os gestores não foram capazes de estruturar o sistema de saúde para atender, não apenas aqueles que contraíram a Covid, mas também os que estavam ali, por longos anos, à espera de uma vaga para deixar de sofrer, para deixar de doer.
Ante a pandemia e, para não dizer, ante as verbas milionárias disponibilizadas para conter a pandemia, elas ficaram ainda mais à margem do caminho. Verdadeiramente marginalizadas por um sistema doente e, por vezes, ganancioso, muitas tombaram ante a dor, ante um quadro crônico do mal que as afetavam e, principalmente, ante a falta de assistência, assistência essa garantida pela Constituição Brasileira.
Mas, na conta dos gestores, um dia a mais, um mês a mais ou um ano a mais para quem já estava ali, silenciosamente esperando a sua vez de viver, não era nada. Silenciosamente eles decretaram, para muitos destes cidadãos, a morte. E agora? Fica a pergunta. Quem vai pagar por essas vidas? Quem vai devolver os entes queridos ou, ainda, a saúde que foi-se esvaindo dia a dia, na espera silenciosa?
Como resposta a tantos questionamentos, mais silêncio. E de silêncio em silêncio, a vida (ou os farrapos dela) segue seu curso. Para estas pessoas, com pandemia ou sem pandemia, a vida estacionou no exato momento em que precisaram de uma cirurgia, que eletiva ou não, seria a cura para suas feridas.
Por isso, a volta das cirurgias eletivas, que nunca deveriam ter sido suspensas, urge, para que essas pessoas voltem à vida, voltem a ter voz, a ter visibilidade em uma sociedade que, com pandemia ou sem pandemia, é uma doente crônica.