Em 1967, o cantor Milton Nascimento e o compositor Fernando Brant escreveram a música Travessia, que fala sobre o sofrimento diante do amor e sobre a angústia de dias vazios diante de alguém que foi embora: “Vou seguindo pela vida / me esquecendo de você/ já não quero mais a morte/ tenho muito que viver...”

Mas quero falar de outra Travessia, uma que acabei de fazer. Embora já tenha feito uma viagem de navio há quatro anos, fiquei com um pouco de medo ao programar outra, desta vez uma travessia. Saindo do Brasil e desembarcando na Espanha. Vou ou não vou? Mais de seis dias em mar aberto e mais alguns dias parando em algumas ilhas. O desejo de viajar e a vontade de aproveitar o tempo que ainda tenho, me fez decidir. Segundo Guimarães Rosa, “Viver é um rasgar-se e remendar-se.” Em outras palavras: “Viver é correr riscos.”

Em reunião de despedida com a família, alguns me alertaram, lembrando do Titanic. Mas já havia decidido. E lá vou eu, embarcando no grande navio Costa Diadema, que pertence ao Costa Cruzeiros, empresa italiana com uma frota de mais de 130 navios, percorrendo todos os mares e levando sonhos que se tornam realidade.

Tudo tranquilo, mar sereno e calmo e propício às reflexões, quando eu me quedava a olhar o infinito, lá onde céu e mar se encontram, naquela imensidão de água, dando-nos a dimensão da beleza e da grandeza de Deus.

Atravessando o Atlântico e depois seguindo pelo estreito de Gibraltar, que liga o Atlântico ao Mar Mediterrâneo, uma experiência única que precisa ser vivida. As emoções são inenarráveis, os dias passados a bordo, com tantas atrações não nos deixam lembrar que estamos em alto mar. Às vezes tentava imaginar pelos dias transcorridos, onde poderíamos estar naquele momento, visualizando mentalmente o mapa da travessia.

Depois a peregrinação, já sentindo a terra debaixo dos pés, visitando lugares turísticos e históricos e não cansando de agradecer por tantas bênçãos e graças recebidas.

E a volta pra casa, para viver de lembranças tão maravilhosas, feliz pela volta. Viajar é muito bom, mas voltar pra casa, abraçar a família, é ainda melhor.

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