Chego na Clínica para mais um exame. Ansiosa e preocupada. Uma dor na panturrilha esquerda que pode sugerir uma trombose ou outro comprometimento vascular, conforme a opinião da médica. Preciso do exame para me tranquilizar. Depois de tentar agendar em outros serviços, finalmente consegui um “Duplex scan venoso”.
Apesar da minha apreensão, o clima aqui é de festa junina. Todos à caráter, com camisa xadrez e adereços próprios para a época. Muitas moças, entrando e saindo. E eu ali sentada, com meus pensamentos, aguardando que me chamem.
Fiz o exame a aguardo o resultado. Felizmente não foi o que estávamos temendo. Graças a Deus! Há muitos e muitos meses, aliás, há mais de 2 anos que vivo peregrinando em salas de espera. Ora de consultório, ora de laboratórios, ora em clínicas de imagem e outras, desde que fui diagnosticada com o câncer de mama e a Covid que me atingiu e descontrolou toda a minha saúde.
Fico conjecturando enquanto espero: como a saúde do brasileiro anda frágil. Consultórios, laboratórios, clínicas de imagem, sempre superlotadas. Até mesmo com um bom plano de saúde, temos que esperar com paciência a nossa vez. E agradeço a Deus, ter esse recurso, pois apesar do SUS ser tão bom, as filas de espera são enormes.
E volto meu pensamento lá em minha terra, São Romão. No meu tempo de criança, não havia médico, nem laboratórios e apenas um farmacêutico prático que herdou a farmácia e alguns ensinamentos do seu pai, o Major Saint-clair Valadares, figura lendária, que penso que deveria ser farmacêutico. Havia muita malária, que chamávamos de impaludismo, porque o Rio São Francisco enchia e transbordava até às ruas. Quando voltava ao leito, ficava a vazante que era cheia de muriçocas, que devia ser o Aedes Egipty. Todos os são-romanenses daquela época tiveram a malária, que era tratada com injeções de impaludan, um líquido azul em uma enorme seringa e comprimidos de aralen, amargo que até doía a cabeça.
Quando eu ou meus irmãos tínhamos febre com calafrios horripilantes, meu pai chamava o Diomedes (o farmacêutico prático); ele nos mandava por a língua pra fora, puxava nossa pálpebra para ver os olhos e diagnosticava: é impaludismo. Minha mãe com as mãos para o céu, dizia: “Graças da Deus!”
Poderia ser coisa pior.