Devo admitir que, antes, quando eu tinha uns catorze anos, até que gostava de você, Pequeno Príncipe. Sei lá, te achava bacanérrimo e todo mundo que eu achava legal naquela época tinha lido você – o menino que morava sozinho em um asteroide, regando sua plantinha, em paz com seu mundinho minúsculo. Sabe, principezinho, essa é a parte da sua história que mais te invejo: como eu queria um asteroide para poder ir as vezes. Ficar admirando o infinito das estrelas, observar cometas, e ouvir apenas o shhhhh do silêncio espacial. Por isso você é tão zen, cheio de frases prontas. Duvido que você seria assim no convívio humano, pegando um ônibus, pagando boletos, tomando remédio controlado...
Nesse ano, você completa 80 anos de principado na literatura mundial. Todo mundo que é feliz gosta de você. Quem fala que não gosta é taxado de chato, ranzinza e amargo. Afinal, como não gostar de um menininho loiro com uma raposa fofa? Não é que eu te odeie. Não é isso. É somente que, pra mim, você soa como aquelas pessoas ricas que sempre tiveram grana, mas muita grana, e que resolvem falar coisas como “dinheiro não é tudo”, “eu gosto das coisas simples da vida”. Queridinho, o essencial é visível aos olhos, sim. Aliás, muito visível. Às vezes, visível até demais.
Coincidentemente, percebi que a leitura do seu livro foi a porta para coisas mais pesadas, como as obras de autoajuda. Atire a primeira pedra, quem não gosta de ler COM TODA AS LETRAS POSSÍVEIS o que fazer da vida?! O bálsamo do adulto perdido. Mas, tudo tem limite, e o meu foi com O Segredo – aquele da lei da atração.
Antes de terminar, me responda, pequenino: não existe Conselho Tutelar Espacial? Como que uma criança perambula sozinha pelo cosmos, tendo que arrancar baobás, regar uma rosa chatérrima, que eu teria esmagado na primeira oportunidade com uma pá, sem a presença de um adulto responsável? Por favor, leitor, me levem pelo lado da ironia para que vocês não percam as estribeiras.