Segundo a minha rápida pesquisa cibernética, é de Coelho Neto a autoria da frase “Ser mãe é padecer num paraíso!”. Claro, somente um homem poderia dizer um impropério desses. Me desculpem as mãezinhas devotadas que se apegam a essa frase como uma máxima para adocicar o cansaço. Aliás, vocês, mães leitoras, tem total direito de discordar de mim. Mas, cá entre nós: ser mãe é padecer no real mesmo. E a realidade é dura e cruel para as mulheres.
Tenho amigas que já são mães e sempre as vejo fazendo severos sacrifícios em nome de suas criaturinhas. Não vou negar que, em um primeiro olhar, é bonito; mas, ao segundo, torna-se crítico. Fico pensando nas inúmeras coisas que minha mãe teve que abrir mão por mim e pela minha irmã. Talvez, nunca vou conseguir retribuir tamanha doação. Lembro de mamãe comprando uma corneta de plástico para minha apresentação cedinho na escola; sendo que um dia antes ela fez uma de papel da qual eu não tinha gostado muito. Ela viu que não gostei e sentiria vergonha em usá-la, porque todos meus colegas estavam com instrumentos comprados. Pois, comprou e, antes do trabalho como doméstica, mandou levar na minha escola.
Poderia discorrer laudas das coisas que minha mãe fez por mim. Papai também fez, mas do jeito dele, ou seja, da porção masculina que a sociedade espera dele. E não são coisas iguais: se toda mãe agisse como pai, as mulheres estariam bem menos cansadas. E digo mais: muitas mulheres amam seus filhos de forma incondicional, porém detestam ser mães.
Tal como Atlas, as mulheres-mães carregam o mundo nas costas, porque se não o fizer, todos irão julgá-la de egoísta, afinal, ser mãe é aguentar o sofrimento. Hoje, depois de muita autoanálise e conversas, principalmente com mulheres, entendo o cansaço da minha mãe. Amo ser o filho dela e a amo em igual medida, porém detesto o fato de que esse papel trouxe a ela inúmeros sofrimentos dos quais nunca vou realmente compreender por ser homem. Odeio o fato dela ter se anulado para que eu pudesse emergir. E me odeio por demorar tanto tempo para compreendê-la.
Te amo, mamãe. Desculpas por ter sido uma criança chata e um adolescente nada carismático.