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Domingo,24 de Novembro
Alexandre FonsecaJornalista, mestre em literatura e doutorando em literatura

Eu sei?

Publicado em 07/07/2023 às 20:00.

Eu sei, cara. Que enquanto vejo os homens nas ruas, eu os invejo, porque nenhum deles para pra pensar quem eles são. Mas eu paro por eles. E penso em quem eu sou e quem são eles. Eu sei, cara, sei que sou invejoso. Invejo esses homens assim como invejo um camponês que olha para o céu e só enxerga a imagem da natureza.

Eu sei, cara. Sei que não sou o mais belo dos corpos, o mais másculo dos homens, ou o mais esperto dos jornalistas. Sou fugaz. Eu sei, cara, que nossas diferenças fazem parte desse processo chamado identidade; tecido vivo do mundo. 

Quando me olho no espelho vejo apenas um reflexo torto e imperfeito, porque sou o retrato de milhões de imperfeições. Eu sei, cara. Sei que escrevo piegas e que às vezes eu canso. Eu sei, cara. Mas, sei que, ao acordar em uma manhã de sábado, ainda serei eu mesmo.

Eu sei, cara, que quando me propus ficar diante de você, você simplesmente quis enxergar o pior de mim – minhas inseguranças, minhas insistências, minhas alcunhas para meus contatos telefônicos. Eu sinto muito que você esteja exausto. Eu sei, cara, que às vezes pareço intransigente com todos a minha volta, mas me irrita o fato de você alegar saber tanto de mim, mesmo sem sequer sermos amigos de verdade. 

Eu, sei cara, que você me acha uma das criaturas mais confusas e problemáticas que o cercam. Que aparentemente parece perdida ou sempre em busca dessa experiência rococó de introspecção ou autoconhecimento. Desculpa por não ser como você; assim, esperto, esbelto e coerente. Eu sei, cara, que enquanto pessoa não coerente, eu me contradigo e, por isso, posso ser sempre outra coisa. 

Mas, eu também sei, cara, que te disse coisas que não deveria ter tido, principalmente, porque nós dois não fomos iniciados em uma amizade. Sei também que você não consegue entender certos conceitos que se desprendem de mim. Talvez, tenhamos que fazer concessões ou simplesmente não tentar. É uma pena, cara, porque acho que poderíamos aprender muito um com o outro. 

Existe muito não-dito entre a gente, porque o que a gente diz se perde tanto, vira ruído. Mas, também existe uma enorme descrença em uma capacidade imanente de delicadeza e suspiro entre todos nós – eu, você e os demais. 

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