Folheando as páginas da minha agenda de capa preta, presente da minha irmã, para ver se organizo as datas importantes, percebo que perdi seu aniversário. Está lá o seu doce nome com minha letrinha apressada: dia tal de setembro, aniversário de. Mesmo que tivesse lembrado, não faria tanta diferença, porque eu fiz questão de estragar tudo como sempre faço. Peguei aquele sentimento leve e gostoso do gostar, embrulhei com jornal velho, empapei de álcool e risquei um fósforo. Uma parte de mim dança com o fogo. Outra se encolhe em um canto e fica arrependida do que fez.
No fundo, sei que você está seguro longe de mim. Te magoei uma vez e pretendo não fazer isso de novo. Como eu poderia magoar alguém que disse querer me ver feliz? Como eu poderia magoar alguém que driblava toda sua timidez para me ver durante uma chamada de vídeo? Como eu poderia magoar alguém que ficava horas, antes de dormir, falando comigo ao telefone?
Pode parecer absurda a resposta, mas eu magoei. E não me orgulho, antes que alguém ache que sim. Foi seu aniversário e eu gostaria de ter lhe enviado algum presente, talvez um livro do C.S. Lewis que você tanto gosta, ou escrever algum recado bobo sobre como é bom tê-lo por perto. Cada dia que passa, o espaço entre a gente vai aumentando, dobrando de tamanho, engolindo esquinas, ruas, avenidas, parques e prédios. Tudo vai ficando mais distante. Apesar de distantes, em uma noite movida à zolpidem, sonhei com seu rosto de menino gentil. E delirei com a possibilidade de sermos tão livres quanto dois animais selvagens.
O bom é que você sempre soube me ler desde o início, sabendo exatamente a pessoa torta que eu sou. Eu me afasto para não ser afastado, baby. Se puder, ainda reze por mim. Você tem uma boa alma.