Durante muito tempo, eu DETESTEI o Dia dos Namorados. Mas, já devo adiantar que era tudo fruto do meu recalque. Recalque pelos casais felizes. Recalque pelos embrulhos cintilantes. Recalque pelos jantares à luz de velas. Recalque pelas mensagenzinhas apaixonadas. Na verdade, eu amo o Dia dos Namorados. Seja ele em fevereiro, no dia de São Valentim; ou no dia 12 de junho, na véspera do dia de Santo Antônio. (É uma pena precisarmos de datas para homenagear o amor? É uma pena; porém, já que temos, homenageemo-lo).
No dia mais cafona do ano, e digo isso de forma totalmente positiva, porque existe algo na cafonice espontânea que me agrada; os enamorados têm a oportunidade respaldada pela coletividade de serem bregas. Tudo fica lindo e emocionante. Até mesmo papel crepom totem da breguice. 
Como não sou mais do time do recalque, gosto muito de ver os embrulhos brilhantes cafonas, os balões de coração, os buquês majestosos de rosas vermelhas, os pacotes de chocolate, as mensagens açucaradas, os cafés da manhã surpresa, as cestas com taças e champanhe barato, pétalas de rosas no chão, na cama, e em todos os lugares possíveis que pétalas podem ocupar; as fotos vexatórias nas redes sociais, e, principalmente, as histórias dos primeiros olhares. 
Sei que muitos poderão dizer que o Dia dos Namorados brasileiro é apenas uma data comunista para vender mais; porém, acredito que, pelo menos uma vez ao ano, podemos baixar nossa militância e azedume (ou recalque) e desfrutar desse romance que muitos gostam de sentir mesmo sabendo de todos os poréns envolvidos. 
Deixem as pessoas serem bregas. Deixem as pessoas comprarem e mimarem seus amores. Paparique seus amados. Os apaixonados têm carta branca para serem cafonas. A única coisa que não vale é ser chato e mal amado. 
P.S.: amor próprio não é namoro. É um tipo de relacionamento, mas não é namoro. E vocês sabem muito bem do que eu estou falando, não sejam inocentes.

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