1. Eu já matei deus duas vezes: a primeira, quando eu era criança e o entendia somente através do temor dos outros; e recentemente, quando finalmente me dei a chance de entendê-lo a partir de mim. Claro que as rachaduras em relação ao divino não ocorrem da noite pro dia, mas a conta-gotas. Pingo por pingo, fui envenenando um deus que não acredita em mim e que não aceita minha ajuda.
2. Deus, que pode até ser palavra em maiúscula, é um compêndio de entendimentos. Quando Linn da Quebrada disse ao Bial que deus e´ uma palavra bonita, porque compreende vários eus, entendi que ele só pode ser sentido a partir de uma experiência que também compreenda meu afeto. Se o deus que eu acredito não acredita em mim e no meu afeto por ele, e´ um deus oco - sombra que passa e não e´ sentida, brisa de verão fria.
3. Em uma das últimas missas que eu presenciei, um padre disse que se a gente não se ama e´ impossível amar a deus. Amor é taça que transborda, deus é nutrido desses respingos. Pra cada respingo de amor, deus transforma em dilúvio.
4. Deus também precisa de nossas mãos para sentir o mundo. Um mundo que nós, como seres divinos e imperfeitos, temos a missão de melhorar antes mesmo de pedir a ajuda dele.
5. “Conhecias até o fundo do meu ser:/ meus ossos não te foram escondidos/ quando eu era modelado, em segredo, / tecido na terra mais profunda” (Salmos, 139:14-15).
6. Deus é uma figura que se escurece no clarão e se ilumina na escuridão.
7. “Antes de dar qualquer forma ao mundo, antes de produzir qualquer forma, Ele estava sozinho, sem forma e sem semelhança com qualquer outra coisa. Quem então pode compreender como Ele estava antes da Criação? Por essa razão, é proibido emprestar-lhe qualquer forma ou semelhança, ou até mesmo chamá-lo pelo seu nome sagrado, ou indicá-lo por uma única letra ou um único ponto...” – ZOHAR.