Houve um período da minha vida, que eu feria as pessoas para não ser ferido. E eu só pude perceber isso depois que comecei minha história na terapia. Aliás, deveria voltar para ela, assim como tantos outros deveriam começa-la. Para mim, a lógica era simples: ferir antes, para não ser machucado; afinal, como diria Wolverine, a melhor defesa é o ataque. Mas, será mesmo? É por andarmos sempre armados que quase nunca nos deliciamos com experiências maravilhosas, porque sempre estamos lá, esperando o pior de tudo e todos, contra-atacando mesmo sem ataque prévio.
Antes de prosseguir, devo lhe dizer: desculpas por tê-lo magoado. E, por mais que você diga que não, eu sei que sim. Quase sempre, você menciona: “você seria um ótimo amante. Fiquei com você e gostei, mas eu jamais te namoraria”. É com muito horror que leio isso. Horror de mim. Mesmo não lembrando da nossa conversa, devo lhe pedir desculpas por essa contusão. Desculpa por tê-lo feito, mesmo que por um minuto, acreditar no que eu disse. E gostaria que você também acreditasse que eu não lembro de ter dito isso, mas confio em sua palavra.
E sabe de uma coisa? Você está muito bem sem uma pessoa como eu por perto. Não me considero a pior pessoa do mundo, mas sei exatamente o santo que não sou e nunca serei. Tem feito exercícios regularmente, arrumou um emprego bacana e tem sido feliz. Ferir você, mesmo que de forma não intencional, foi uma das coisas que mais me envergonho. Não tive maturidade. Não tive responsabilidade afetiva. Fui um babaca.
Todos nós estamos exaustos: eu, você e o mundo. Todos nós estamos afundados em nossos mares particulares de carmas. Sinto muito por tudo e por nada, xará.
Tenho certeza que você encontrará uma pessoa que dirá: “fiquei com você e gostei. E eu te namoraria, caso você me quisesse, porque estou aqui e você aí”.