Eu sei que você sabe, mas finge
Teófilo Otoni, 10 de abril de 2020
Eu sei que você está aí, deslizando os dedos em uma mesa, mas não sei se ela é de metal, madeira ou mármore barato. Sei também que há uma janela perto, por onde você escuta o dia se arrastando na passagem das horas: nesta dança, sei também que pode se fazer meio-dia quando ainda há escuridão, e três da manhã pode ser o entardecer. Eu sei que perto de você existe um calendário, e neste calendário existem infinitos dias dos quais eu quero pertencer e morar.
Eu até arrumei um emprego do qual eu gosto muito e do qual me faz passar saborosamente o tempo. É, eu sei. E sei que você também sabe, porque você sabe tudo da minha vida, mesmo sem me conhecer a fundo. Eu sei que você pode me ofertar um mundo do qual eu quero e eu aceito de bom grado, porque eu te escolho mesmo sem saber seu rosto. E eu quero tudo o que você tem para me oferecer, mesmo sendo apenas pedras e penas. Pois sei que, essas pedras e penas, serão as melhores coisas que alguém poderá me ofertar. E eu as aceito.
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Queridamiga
Montes Claros, 21 de agosto de 2019
Vi uma foto nossa e lembrei como era bom e confortável ter sua companhia, amiga. Engraçado como ainda não consigo te chamar de outra coisa, a não ser AMIGA. Mesmo a gente não sendo mais amigos e nem conhecidos. Agora, somos alheios um ao outro. Sua vida não me interessa e a minha não te interessa. Pelo contrário, passa despercebida. Quase sempre nos vemos em festas e sempre fazemos a mesma coisa: fingimos. Fingimos tão bem que parece que nunca fomos amigos. Mas fomos. E nossa amizade teve um curto espaço de tempo. Nem foi para os aparelhos, porque nem tentamos revivê-la. Na verdade, amiga, até hoje não sei o porquê de tudo ter acontecido.
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Olha, vê
Governado Valadares, 25 de janeiro de 2017
Ele me olhou com um olhar estranho. Era um olhar de... amor?!