Alexandre FonsecaJornalista, mestre em literatura e doutorando em literatura

Beleza põe mesa

Publicado em 01/12/2023 às 19:00.

Eu só queria ser bonito e ouvir elogios que raramente escuto. E não venha com essa história de ‘cada um tem sua beleza’. Todos nós sabemos que não é a beleza que dói, mas a falta dela. O mundo aprecia as coisas bonitas. A natureza é bela e maravilhosa. Eu sei, você sabe, mas negamos a acreditar que a beleza não coloca comida na mesa. Coloca mesa, vinho bom, talheres de prata, cardápio francês.

Pessoas bonitas são perdoadas de antemão; afinal, beleza e maldade parecem não combinar. Conheço homens e mulheres belíssimos que não valem um mísero tostão, mas estão sempre rodeados de pessoas com muitos dentes, dentes brancos, teclas de piano. Estão lá, em pé, tomando champanhe em taças de cristal, sendo perdoados pelos feios que os servem.

Pelo menos uma vez na vida, eu só queria o básico. Que um homem elogiasse não o número de livros que leio por ano, mas a curva dos meus braços ou o contorno da minha perna flácida. Não encarem isso como um contramovimento de nada — às vezes, por pura preguiça, só queria ser básico: não pensar demais, não indagar demais, não refletir demais, não rir alto demais, usar tons discretos e ser um homem simples e menos falante. Além disso, não fazer os outros sofrerem com os próprios pensamentos.

As pessoas querem beijar lábios carnudos e não ouvir correntes filosóficas. Todo mundo sabe que a beleza, mesmo que mínima, conta. Sejamos espertos, mas não demais. Afinal, um distraído bonito é a prata da casa!

Que, assim como Shakespeare, eu possa me olhar no espelho e dizer: ‘Beleza, onde está tua verdade?’

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