Alexandre FonsecaJornalista, mestre em literatura e doutorando em literatura

Amor gasoso

Publicado em 18/08/2023 às 23:00.

Com todo o respeito ao legado de Zygmunt Bauman, permita-me expressar uma perspectiva ligeiramente divergente. Eu vejo a fluidez das relações amorosas, como descritas por ele nas relações contemporâneas, como tendo evoluído além desse estado líquido, alcançando agora o que poderia ser considerado um “amor gasoso”. Antes, a volatilidade das relações já questionava profundamente os alicerces dos vínculos duradouros. Contudo, nos dias de hoje, parece que a ênfase não reside mais na crença no amor. Diante disso, se optamos por não confiar no amor, em que bases iremos buscar conexões?

Antes de tudo, devo esclarecer que minha referência não é ao amor romântico, no qual idealizamos o parceiro, ampliando suas qualidades e ignorando suas imperfeições, enquanto depositamos nele nossa única fonte de felicidade. Não se trata disso. É sobre o romance no amor. É sobre o reconhecimento de que não somos entidades isoladas. É sobre o medo latente que nos impede de estabelecer conexões, levando-nos a refugiar entre escombros e permanecer nesse estado, evitando enfrentar a vida.

Tentando buscar algumas respostas, fui a campo e perguntei uma amiga, na qual a identificarei como Marília de Dirceu: afinal, por que você está solteira? 

“Se essa pergunta fosse feita dez anos atrás, a resposta seria que não quero compromisso, não é um desejo e nem prioridade no momento. Mas, agora é diferente, estar solteira continua sendo uma questão, uma escolha, só que ela surge de um momento em que existe o desejo de construir uma relação, porém se esbarra na escassez e completa desilusão de encontrar alguém disposto a isso. É bem exaustivo flertar, iniciar uma conversa. Daí, a gente vira um casulo, sem ânimo para sair e mais sem ânimo ainda pra usar apps. Quando a gente se dá conta, está com mais de 30 e o convívio social é com a mesmas pessoas, que são pessoas em sua maioria casadas ou namorando. Mas, apesar de tudo, ainda assim escolho estar só que mal acompanhada. As relações humanas são complexas, e as amorosas é para mim muitas vezes incompressível e assustadora. Por ora desisti, não sei se pelo amargor das decepções, a dificuldade em encontrar alguém bacana ou por não acreditar mesmo. Eis aí uma questão para análise”. 

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