Tenho muita pena daqueles e daquelas que não têm alguém para olhar com um olhar terno e dizer: “essa pessoa é minha amiga!” Demorei algum tempo para encontrar pessoas com as quais pudesse, verdadeiramente, me abrir. Com eles, me abro como um livro que se deixa folhear por um leitor ávido e curioso. Com meus amigos, posso falar e ser ouvido. Posso ouvir e deixar que falem. Mas, há julgamentos, porque a amizade sem a ponderação do outro é como café fraco, aguado e ruim. Amigos devem dizer a verdade sempre que possível.
Nesta semana, marquei um encontro com um amigo psicólogo. Ele preparou um banquete: pãezinhos recheados com frango, empadinhas, “florzinhas do campo” açucaradas, suco de goiaba e manteiga de garrafa temperada com alho. Que amigo zeloso! A casa é um reino para ele. Deixemos de lado o colunismo social — o fato é que ele me disse verdades. E eu me abri com ele. É bom poder falar as coisas que ficam presas na garganta, como enguias engolidas e não devoradas. Remexem dentro da gente e nos tiram a paz. Quando alguém nos pesca, consegue retirá-las. Uma escuta. Um diálogo com suco de goiaba. Uma ouvidoria terapêutica.
[Muitos reclamam que não encontram a alma gêmea, porém, já pararam para pensar que nossos amigos podem ser essas almas gêmeas? Não apenas uma, mas muitas almas gêmeas. A amizade é o sentimento primordial para todos os outros; é ela que prepara o terreno e nos torna sensíveis ao mundo. Claro que devemos agir com parcimônia e não considerar qualquer pessoa como amigo, pois a amizade é um lugar sagrado.]
Querido amigo, queria que soubesse que, mesmo eu sendo uma pessoa tão discrepante de você; cansado, exaurido de certas coisas da vida, e você tão gracioso como uma sempre-viva no campo, um passarinho miúdo que canta à janela, sou grato pela companhia sempre adorável. Em breve, espero ter meu nome em uma das rolhas que você exibe como troféus de momentos bons. Vamos tomar um vinho ao seu gosto. Só exijo que você seja o mesmo de sempre.