Dirceu Cardoso Gonçalves
Dirigente da Aspomil
aspomilpm@terra.com.br
O ex-presidente – hoje senador – Fernando Collor deverá ser candidato ao governo de Alagoas. Se eleito, retorna ao cargo de onde, na segunda metade dos anos 80, incorporou a figura do determinado caçador de marajás e, com ela, voou direto para a presidência da República. Seu governo, interrompido pelo impeachment, foi modernizante e, sem qualquer dúvida, contribuiu em muito para o atual Brasil de economia próspera. Sem base política e ainda tomado pelos os arroubos próprios dos 40 anos – pouca idade para um chefe de Estado – Collor, o primeiro eleito diretamente pelo povo depois do ciclo militar, não resistiu, e teve de ressurgir das cinzas políticas. Já tem o mandato de senador e, há quem veja na corrida ao governo de seu Estado, o provável começo de nova escalada.
Antes de Collor, Jânio Quadros também pereceu por conta da falta de base congressual e das coisas que fez na efervescência dos 40 anos. Na ruptura de Jânio, o país marchou para o regime autoritário, e na de Collor, ganhou forças para consolidar a democracia e o desenvolvimento econômico. Nos dois momentos, prevaleceram os ventos internacionais, pró-conservadores nos anos 60 e liberalizantes nos 90. Depois de Collor, cristalizou-se a geração política dos anistiados e o país avançou, criando uma nova ordem interna e uma figura internacional mais consistente.
Tanto Collor quanto Jânio pagaram caro pelas tentativas de governar com luz própria. Ambos foram atropelados pelo Congresso e outras forças político-sociais que, na falta de espaço para atuar ou de entendimento para compreender ou aceitar os momentos vividos, investiram na ruptura. Um olhar sobre aqueles tempos leva, facilmente, ao entendimento da palavra “governabilidade” e à compreensão dos comportamentos de Lula, FHC, Itamar, Sarney e de governantes dos níveis estadual e até municipal frente aos interesses políticos, econômicos e até oligárquicos. É o perigoso caminhar sobre o fio da navalha.
Vivido e superado o trauma da interrupção do seu período presidencial, Fernando Collor reinseriu-se no cenário político nacional. Como senador, faz um mandato de resultados, mas discreto e integrado à base de sustentação de Lula, de quem foi adversário em 89 e nos seus tempos presidenciais. Hoje, a experiência dos anos o torna um político mais contido, mais próximo do que foram o avô Lindofo e o pai Arnon, ambos de importantes e longas carreiras políticas.
O Collor de hoje não é mais o dito caçador de marajás e, inteligentemente, desconversa quando tentam lhe falar sobre o retorno ao Palácio do Planalto. Comportamento habitual dos políticos, que desestimulam discussões sobre hipóteses e o próprio futuro. Todo o Brasil, no entanto, deve ficar atento à movimentação do ex-presidente. Sua história permite prever que, volte ou não ao principal posto da Nação, o futuro da política brasileira tende a passar pelas suas mãos...