Coisas que acontecem (somente) comigo

Jornal O Norte
Publicado em 06/05/2009 às 10:14.Atualizado em 15/11/2021 às 06:57.

Waldir de Pinho Veloso (*)



Há coisas que acontecem somente comigo.



A expressão é repetida por muita gente. O que faz imaginar como fatos podem acontecer somente com uma pessoa e, por outro giro, com tantas pessoas acontecerem certas coisas dessa qualidade.



Em 2003, eu trabalhava na Unimontes, na imprensa universitária. Fazia revisão ortográfica ou linguística. O meu escritório de advocacia ainda era na Praça Portugal, em imóvel do Sr. Vítor Hugo Marques Pina. Na sala ao lado, funcionava o escritório do Dr. Geraldo Magela e Silva.



Em uma noite, tive um sonho, colorido como sempre acontece comigo (pelo que sei, não somente comigo). No sonho, eu cheguei ao escritório do Dr. Geraldo e vi, na tela do seu computador, um desenho de uma espécie de rede, retorcida e extrema e lindamente colorida. Somente fiquei sabendo que se tratava de um sonho no dia seguinte. E por quê? Porque fui à sala do Dr. Geraldo e disse que gostaria de ver, novamente, aquela tela de computador, talvez como papel-de-parede ou outro produto ou nome que a rede mundial de computadores utiliza. Expliquei como era o que se apresentava no monitor e ninguém sabia do que se tratava. Eu afirmei que eu entrara na sala e vira a imagem na tela. Ao explicar como estava a apresentação, concluí que se tratava de um sonho. Não era realidade. Geraldo e Arley, presentes na sala, afirmaram que não havia a imagem que eu descrevia, na tela do computador, em dias anteriores. E concluíram que deveria ter sido um meu sonho.



Arley tentou reproduzir a imagem que eu descrevia, mas não foi possível. Na manhã seguinte, cheguei à Unimontes e expliquei para o artista gráfico Clésio Robert, que trabalha(va) na imprensa universitária exatamente no setor de criação gráfica, como era o desenho do meu sonho. Eu queria que aquele desenho fosse reproduzido em meu papel timbrado que eu utilizaria em minhas petições. E em meus cartões, chamados “de visita”.



Lembro-me que Clésio, com o poder da arte que domina, desenhou linhas e as “retorceu” (em minha presença, na tela do computador) até que ficassem no formato por mim pretendido, até que alcançassem a “visão” do meu sonho colorido. E coloriu cada linha ao meu gosto. Ficou como eu queria.



No dia, fiquei com o desenho gravado em um disquete de computador. Sem demora, mandei imprimir meus cartõezinhos e comecei a distribuí-los com aquele formato.



Por uma questão financeira, a grande maioria dos cartões são impressos com tinta preta sobre papel branco, na chamada impressão monocromática (única cor). Mas, sempre tenho uns cartões impressos em cores variadas (policromia, várias cores) que representam o desenho original que criei a partir do sonho. Em 2005, estive no Ministério da Educação e no Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, em Brasília, defendendo a aprovação do projeto de criação da Faculdade de Direito da FAVAG e distribuí alguns cartões, em cores.



A minha folha de petição também contém este formato. Utilizei durante muito tempo de uma maneira seguida. Entre 12 de julho de 2005 e o meio de 2008, por estar trabalhando na Administração Pública e estar, por lei, impedido de advogar para particulares, não fiz petições. Desde então, voltei a utilizar o papel neste formato. Desde janeiro de 2009, encomendei a impressão de mais cartões. Sempre com o mesmo formato.



Agora, pelo Decreto 6.828 (da Presidência da República), do dia 27 de abril e publicado ontem, dia 28, no Diário Oficial, houve a determinação de que as certidões de nascimento, casamento e óbito tenham impresso padronizado. São modelos oficiais a ser utilizados, uniformemente, em todo o Brasil. E, o fundo dos impressos tem exatamente o mesmo padrão que utilizo em minhas petições e cartões desde 2003. A questão fica na comparação do meu material colorido (que, obviamente, contém a cor azul – a minha preferida – em mais de uma tonalidade). O meu material é multicor. O fundo ou marca-d’água das futuras certidões de nascimento são azul, verde e amarelo; as certidões de óbito são somente azul e as de casamento, somente verde. Mas, com traços muito semelhantes aos que utilizo.



Os novos modelos serão obrigatórios a partir de primeiro de janeiro de 2010.



Até lá, muitos verão apenas as minhas petições e meus cartõezinhos com o formato. A partir do ano que vem, haverá uma banalização do meu sonho. Sonho que eu pensava ser exclusivo.



Perdi o direito até de sonhar.



Coisas que acontecem (somente) comigo.


 


(*) Waldir de Pinho Veloso é Advogado, Professor Universitário e Escritor. Pós-Graduado em Direito e Mestre em Linguística. Autor de dez livros (publicados) e dois no prelo.  (29 abr. 2009)

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