Chicão e outros heróis do nosso esporte

Jornal O Norte
16/07/2009 às 09:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:04

Ricardo Freitas

Não há a menor dúvida: as poucas e honrosas vitórias da história do esporte montes-clarense pertencem a heróis anônimos. A fama e os cargos de comando estão sempre nas mãos de políticos ou promotores de eventos, e esta é a maior derrota do nosso esporte. Um desses heróis anônimos acaba de completar 50 anos de vida. Francisco Nunes Ferreira, o Chicão, mesatenista do Vallée.  

Conheci Chicão na extinta Olibamoc (uma dessas mal-organizadas e vexatórias competições esportivas promovidas pela prefeitura).  Eu e ele jogávamos nosso pingue-pongue com raquetes Betinho e nem me lembro se chegamos a nos enfrentar na primeira vez, mas não esqueço que admiramos e estranhamos a atuação de Jorge David, campeão naquele ano. Jorge David, baiano da mesma cidade em que nasci, já era mesatenista com anos de treinamento em clube de Belo Horizonte. Os anos se passaram e eu e Chicão crescemos no esporte, nunca alcançamos o rigor técnico de Jorge, mas passamos a dar trabalho e também a vencer.

Passaram-se várias olimpíadas de bairros, com vitórias minhas e de Jorge. Vários Jimi (Jogos do Interior de Minas – e algumas vezes abandonados, no dia da viagem, de mala e cuia na porta da Prefeitura à espera de ônibus que nunca vinham), e por uns dois ou três anos na disputa do Circuito Sesc de Tênis de Mesa, muitas coisas aconteceram. O que nunca deixou de acontecer foi a dedicação pessoal e incansável de Chicão ao tênis de mesa. Eu e Jorge sempre comentamos: “pô, ele não segue adequadamente as técnicas de deslocamento, movimento e de uso de efeitos, e no entanto é um cara se tornou um atleta muito difícil de se vencer.” E tem sido assim. Quando vez por outra aparecem competições, lá está Chicão para ser o vencedor, com seu jeito simples, humilde mas agressivamente e apaixonadamente competitivo.

O que mais nos deixa frustrados não é apenas a falta de competições, nem mesmo a falta de reconhecimento, mas sim o desrespeito ou até mesmo desprezo com que é tratado o esporte.  E isso vale para todos os prefeitos que passaram pelo comando deste município. Recentemente me inscrevi num torneio aberto promovido por estudantes de educação física da Unimontes. A turma seria avaliada em sua capacidade de cumprir as normas de organização de um evento esportivo.

Fizeram minha inscrição, além de uns dois ou três jogadores, os outros inscritos eram integrantes da própria organização do torneio. Não tinham rede oficial de tênis de mesa. Não sabiam as regras do esporte para o qual “organizaram” a competição. Arbitragem então!...  Além de um troféu, o prêmio para o vencedor eram duas caixas de cerveja! Mas fizeram direitinho o desfile de bandeiras, a narração do convite de autoridades para a mesa, o juramento do atleta.  O professor deles, se não me engano, atual secretário-adjunto de esportes, Jaime Tolentino, apareceu na hora da cerimônia, e virou lenda na hora da parte principal do evento: o esporte! Mesmo sem levar em conta a ética profissional e o esporte em si, a tal turma deve ter tirado nota dez! 

E assim, em clima de derrota ética e profissional, não é difícil enxergar um futuro ainda mais vergonhoso para o nosso esporte. Essa gente é que vai arbitrar eventos em que o esporte é apenas bode expiatório, pano de fundo, figuração... Ou algum atleta aí costuma participar de torneios realmente bem organizados por essas bandas?

Mas com certeza, contra tudo e contra todos os que tomam as rédeas da organização esportiva na cidade, haverá sempre um Chicão no futebol, no basquete, no handebol (cujas vitórias só mesmo a turma de Francis, Marcelo e Mercês sabe o quanto custaram em dinheiro, vida, sangue, tempo e paixão), no vôlei, esgrima, xadrez (o xadrez de Brandãozinho), entre outros.  Se o governo municipal, ao contrário da imprensa, não apoia e muito menos divulga nossos heróis anônimos, é nosso dever de, cá entre nós, reconhecer, admirar e valorizar a vida e as vitórias de cada um dos nossos atletas – sejam eles profissionais ou amadores.

Em nome de todo esse time e de toda uma geração sofrida, mas que carrega a serenidade do dever cumprido, parabéns Chicão!

Do velho companheiro, Ricardo Freitas.

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