Causando poesia - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 13/09/2007 às 11:29.Atualizado em 15/11/2021 às 08:16.

Adilson Cardoso *


 


A poesia é considerada uma das sete artes tradicionais, onde a linguagem do homem a utiliza com fins estéticos. O que também pode ser de forma anti-estética ou até anti-ética se a licença poética não acudir. O sentimento determinante naquele exato momento provoca a reação no poeta, que se arma da sua inspiração e desabafa. Quando o amor lhe aperta o peito e o suspiro lhe deixa odorante o olfato,  ele derrete seu lirismo e vai vagar pelo ramalhete das suas lembranças  lisonjeado com a cantiga. Mas se a emoção lhe furta o oxigênio, e as lágrimas do desprazer, incomodam o seu desejo, o céu fica nublado, e a poesia intervém, denunciando  do fundo do amago as dores lascivas do poeta. Alvares de Azevedo (1831-1852)  poeta, escritor da segunda parte do Romantismo , debruçou sobre os ombros da poesia para lastimar suas amarguras, da sua obra póstuma  “Lira dos Vinte Anos”  nos vimos,  ” Pálidos sonhos do passado morto, é doce reviver mesmo chorando, a alma refaz-se pura. Um vento aéreo parece que do amor nos vai roubando.”



Mas o poeta não tem a atenção que merecem seus atos inquietos, a poesia vive a margem das invenções do homem urbano. Enquanto a História nos mostra a sua importância  na antiguidade, suas relações sociais e seu papel essencial. Hoje  nós temos apenas  uma relação anual com a  nossa  poesia contemporanêa, esta deliciosa sensação perdura por sete dias  e o mestre “Aroldo Pereira” batizou-a de “PSIU  POÉTICO”. Esta relação é mais que um coito poético, é algo além do gozo literário. É uma relação   de fidelidade , não deixando o prazer de lado, com direito de afiar a lingua e gritar como se queira, quem manda é a poesia, o descaramento do gesto, a ternura do sentir. Mas é preciso procriar, desta união sagrada-profana deve nascer os novos filhos, poetas em suas fases fálicas, engatinhando para a puberdade do próximo Psiu. Assim se desconstroi e constroi, as faces do novo mundo tomam na cara o escarro manifesto da liberdade de expressão. Combate-se a corrupção, foge-se do ladrão, toma a arma do pivete e lhe ofereça poesia. Vamos todos ficarmos nús, assim não teremos bolsos para guardar o dinheiro que compra drogas e enriquece traficantes, que mata o cara que ele mesmo viciou. O poeta não é alienado. O russo “Cubo-Futurista” Maiakovski (1893-1930),  foi um poeta que buscou conciliar as aspirações do povo com os idéais futuros, para a elevação da poesia em seus conceitos dramaticos. Numa dessas inflamadas inspirações o poeta vociferou : “Ressucita-me! ainda que não seja, por que sou poeta, e ansiava  o futuro”. E Aroldo Pereira encerra: “ Desmistifica o tédio, escreve, constroi, arquiteta a vida, como quem entende.”



* Aprendiz de escritor

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