Carta ao leitor: As mulheres no poder

Jornal O Norte
Publicado em 11/01/2011 às 16:01.Atualizado em 15/11/2021 às 17:19.

Desde que foi invadido pelos portugueses, no ano de 1500, o Brasil vive em constantes mudanças, especialmente na política. Mas, por mais importantes que todas tenham sido, cada uma a seu tempo, indubitavelmente, nenhuma delas é tão marcante na história do país quanto a chegada da primeira mulher à presidência da República.



Apesar da militância de Dilma Rousseff e do grupo que ela representa para chegar ao mais alto cargo público do país, a função de presidente que ela ora ocupa também é resultado de uma sucessão de batalhas, nem sempre vencidas, travadas por diversas mulheres que, ao longo da história, quebraram paradigmas e abriram caminhos para as novas gerações. Seja pela inteligência, pelo talento ou até pela beleza, de forma individual ou coletiva, essas mulheres contribuíram para que o país possa viver o momento atual em que é comandado por uma mulher; mais que isso, que tenha se tornado um Brasil melhor.



A primeira delas foi Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga – a princesa Izabel. A jovem herdeira do trono de dom Pedro II, que substituía s o pai nos períodos de viagens ao exterior, assinou a Lei Áurea, em 1888, que deu fim à vergonhosa escravidão que desumanizava o país. A princesa se fez ser ouvida por um Brasil arcaico em que o universo era esmagadoramente masculino.



Também fizeram história a bióloga Berta Lutz, que criou o movimento sufragista feminino no Brasil, em 1922; as professoras potiguares Celina Guimarães Viana e Júlia Alves Barbosa, primeiras mulheres do país a conquistar o direito de requerer o título de eleitor, em 1927. Foi também no Rio Grande do Norte que uma mulher se elegeu prefeita pela primeira vez na história do país: Alice Soariano, na cidade de Lajes. A primeira mulher governadora de estado foi Iolanda Lima Fleming, em 1986, no Acre.



Mas antes de conquistar o direito ao voto, há o registro da passagem de mulheres poderosas, que souberam tirar proveito do fato de serem amantes de homens proeminentes de sua época para escrever seu próprio capítulo na história. 



Domitila de Castro, a marquesa de Santos, foi amante de dom Pedro I e exerceu grande influência política sobre seu mandato. A ex-escrava Francisca da Silva de Oliveira – Chica da Silva-, que cresceu às margens da lei e da ordem, conseguiu ser alforriada e romper bloqueios em instituições exclusivas para brancos.  Sobre o lombo de um cavalo, Anita Garibaldi acompanhou o libertário Giuseppe Garibaldi nas lutas republicanas do Sul do país e também entrou para a história.



Além de também lutar pelo fim da escravidão, a pianista Chiquinha Gonzaga, que era filha de um militar com uma mulata, fez uma revolução na vida pessoal, ao se separar de dois maridos e iniciar um terceiro casamento aos 52 anos com um jovem de 16; e na identidade musical do país ao levar para os salões nobres os ritmos apreciados pelo povo, escandalizando a sociedade da época. Chiquinha Gonzaga viveu no período de 1847 a 1935.



Nair de Teffé (1886-1981), primeira cartunista brasileira ficou famosa pelas críticas à elite brasileira. A bailarina Dora Vivaqua (1017-1967) popularizou o naturismo; a provocadora atriz Leila Diniz (1945-1972) debochou do conservadorismo do regime militar e se tornou símbolo de seu tempo. A cantora Carmem Miranda e a modelo Vera Valdès transpuseram fronteiras levando o nome do país para outras rodas sociais, chamando atenção, cada uma a seu modo, pelo talento, inteligência e beleza. A escritora Raquel de Queiroz foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras; Maria Lenk, a primeira nadadora brasileira a participar de uma olimpíada e primeira mulher a estabelecer um recorde mundial; Taís Araújo, a primeira atriz a protagonizar uma novela no horário nobre da rede Globo.



Da princesa Isabel a Dilma Rousseff, são muitos os nomes de mulheres que poderiam ser citados cuja participação na construção da história do país permitiu a ascensão feminina ao poder. Hoje, 51,8% dos eleitores brasileiros são do sexo feminino, mas a representação política ainda está longe de atingir os 30% previstos pela lei de cotas por partido para candidatas.



Mesmo tendo lutando por direito a voto, à liberdade de expressão e à igualdade em relação aos homens, as mulheres também não recebem salários equiparados ao dos homens, e leis como Maria da Penha, criadas para defender efetivamente os direitos da mulher, também não se consolidaram ainda.



Resta a expectativa criada com presença de Dilma Rousseff na presidência da República para que as mudanças sonhadas e promovidas pelas mulheres na construção de uma sociedade mais justa e menos desigual aconteçam, efetivamente.



Jerúsia Arruda


Editora-chefe

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