Já faz algum tempo que lavoura farta deixou de ser sinônimo de comida na mesa. É que muitos vegetais, antes produzidos para alimentar as pessoas, se tornaram muito mais rentáveis para o produtor se forem destinados à produção de biocombustíveis. Além disso, a isenção fiscal para quem produz para esse fim é muito maior.
Cada vez mais os produtores estão substituindo suas culturas pelo plantio, por exemplo, de milho e cana-de-açúcar para a produção de etanol e biodiesel. O resultado dessa mudança é o aumento excessivo no preço dos alimentos, que se tornaram o item que mais eleva as estatísticas de inflação e, o mais grave, a produção está cada vez menor e, nesse ritmo, em breve poderá ser insuficiente para suprir a demanda mundial.
A fome sempre foi uma ameaça e motivo de guerra em vários países, e agora que a produção de alimentos precisa medir forças com a voraz indústria de biocombustíveis, a tendência é piorar, e muito.
Nos Estados Unidos, por exemplo, um quinto do milho produzido é utilizado para a produção de etanol e sua utilização como alimento vem diminuindo ano após ano.
O açúcar refinado e o etanol têm a mesma matéria-prima: a cana-de–açúcar. Mamona, soja, palma (utilizada para fazer azeite de dendê), matérias-primas utilizadas para a produção de biodiesel no Brasil estão ocupando os espaços antes destinados à lavoura de laranja, cenoura, mamão, batata, entre outras. A oferta desses alimentos tende a diminuir, enquanto a demanda é a mesma, e, em alguns países, está aumentando. Seguindo a lógica da lei da oferta e da procura, típica do capitalismo, o preço dos alimentos só tende a aumentar.
De forma indireta, os preços de carnes e laticínios também tendem a ficar mais caros já que os insumos que compõem a alimentação de aves, bovinos e suínos também são utilizados na produção de biocombustíveis.
A correlação entre o aumento da demanda de biocombustíveis e os preços de alimentos preocupa especialistas e é motivo de estudo da FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. De acordo com estudo publicado pela instituição em 2007, a demanda por biocombustíveis em nível mundial vai duplicar em 10 anos.
Resta saber como a Organização das Nações Unidas e cada país individualmente estão se mobilizando para evitar que a produção de biocombustível não leve a humanidade a morrer de fome.
O Brasil e o Canadá possuem os maiores recursos hídricos do planeta e, juntos, poderiam perfeitamente ser não só a caixa d’água, mas também o celeiro do mundo.
Mas as estatísticas não são animadoras.
Jerúsia Arruda
Editora-chefe