Samuel Nunes
E surge então a pergunta, fruto da perplexidade nacional:
- Onde estão os caras pintadas, a pressão da sociedade expressa nas ruas, cobrando a punição dos culpados?
Tal pergunta foi feita recentemente na rádio CBN e em um artigo na Folha de S. Paulo pelo cronista e romancista Carlos Heitor Cony, a respeito dos últimos acontecimentos políticos que estão fazendo estremecer os corredores do Planalto e do congresso nacional.
O Brasil parou, não para assistir a uma partida envolvendo a seleção brasileira de futebol, mas sim para acompanhar pela telinha da rede Record, Bandeirantes ou ainda rede Cultura aquele que foi denominado por muitos jornalistas como o duelo do século. Lembrando que a rede Globo exibia, no momento do embate entre José Dirceu e Roberto Jefferson na comissão de ética da câmara, a novela Laços de família e, depois, a ultrapassada Sessão da tarde.
Tenho por dever de ofício acompanhado de forma sistêmica os depoimentos dos envolvidos, e o que mais tem me intrigado é quem realmente tem falado a verdade nesse triste episódio da política deste país tão grande e bobo ao mesmo tempo.
Talvez um dos motivos da inércia crítica dos estudantes, das entidades de classe e, por conseguinte, dos eleitores brasileiros neste fato seja a descrença em nossos políticos. Outro argumento exposto pelo jornalista Carlos Heitor Cony para a ausência de manifestação nas ruas do país, em decorrência da crise política, é o fato de o PT, partido que sempre corroborou para a ética na política, estar envolvido de maneira peremptória neste que está sendo considerado, na visão de alguns membros da CPMI e de alguns cientistas políticos, como o maior esquema de corrupção do país em todos os tempos. Superando, quem diria, o esquema do já falecido PC Farias.
Outra observação que merece ser discutida é a cobertura da mídia. O jornal da Bandeirantes deu um foco diferenciado do Jornal Nacional a respeito dos pronunciamentos de Zé Dirceu, o Homem Gelo, e Roberto Jéferson, o Ator de Brasília. Está sendo perceptível que não está sendo colocado em prática o que aprendemos nos bancos das faculdades de jornalismo, que é a independência editorial, até mesmo em programas televisivos onde é debatido o assunto Mensalão. Fica explícito qual o posicionamento de alguns veículos de comunicação em relação ao governo Lula e os últimos acontecimentos envolvendo o Partido dos Trabalhadores.
Concluo este artigo com uma pergunta que não quer calar e que tem sido propagada nas ruas de todo o Brasil e até mesmo nos corredores do congresso nacional:
- Será que tudo isso vai acabar em pizza?
Outra pergunta que faço:
- Será que políticos como o ex-presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que renunciou por temer perder os seus direitos políticos, pode, no próximo ano, voltar ao seio da política nacional?
Concordo em gênero, número e grau com o presidente do PT, Tarso Genro, que, em entrevista à imprensa, disse que deputado ou senador do seu partido que renunciar ao mandato vai ficar sem legenda nas próximas eleições. Medida inteligente e sábia, acima de tudo ética, de alguém que deseja transparência e moral na política do país.
Aguardo com expectativa o final dos trabalhos da CPMI, na esperança de que esta não seja mais uma novela onde o mal prevalece durante quase todos os capítulos e, quando todo mundo espera que no último capítulo o bem prevaleça, para decepção de muitos, acontece o inesperado, que é a vitória do mal que, neste caso, seria os políticos corruptos deste país tão grande e bobo.
Este texto faz parte da página produzida pelos acadêmicos do curso de Jornalismo do CRECIH/Funorte
Editores: Ana Gabriela Ribeiro e Elpidio Rocha
Coordenador do curso: Ailton Rocha Araújo
Coordenadora de produção: Tatiana Murta