Cachaça no Norte de Minas: círculo vicioso que mata inclusive com apoio do governo

Jornal O Norte
Publicado em 17/05/2008 às 12:13.Atualizado em 15/11/2021 às 07:33.

Chico Macedo


Colaboração para O NORTE



A menos de 300 metros do rio Cochá e 12 quilômetros do rio Carinhanha, que divide Minas Gerais da Bahia, está o cemitério em que hoje são enterrados os moradores de Campina.



A comunidade de Campina é formada por 30 casas. Os moradores são negros, pobres e, quase todos, primos ou parentes em algum grau. Dificilmente os sobrenomes diferem de Cardoso, Santos, Costa, Rodrigues, Barbosa, Silva, Oliveira e Nogueira.



Nos últimos sete anos, foram sepultadas oito pessoas da comunidade no cemitério. Quatro senhoras que morreram de morte natural, uma criança de nove anos, que morreu de meningite, e três homens: Chico de Cristino (2001), Felipe Barbosa, o Careca (2001), irmão de Chico, e Domingos Oliveira dos Santos, o Domingão (2006). O mesmo quadro de dependência aproxima a morte dos três: o alcoolismo.


 


A MORTE DE CHICO DE CRISTINO



Do cemitério, seguindo o curso do rio Cochá por menos de dois quilômetros, é possível ver uma cruz de madeira fincada em um barranco na beira do rio com a inscrição FCB 4.6.66 – F 21.2.2001. A cruz marca o local onde Francisco Costa Barbosa, o Chico, foi visto pela última vez, aos 33 anos. As datas indicam o dia do nascimento e da morte do filho de Cristino Barbosa com Laurinda Costa.



Segundo o pai, em 21 de fevereiro de 2001, Chico levantou com ressaca, mas tinha que continuar um serviço que fazia com o compadre Sebastião Nogueira dos Santos, o Cabelo, na fazenda de Jorge Pereira. “Chico bebia todo dia, mas nunca perdeu serviço por conta de bebida. Trabalhava de segunda a sábado”, conta Cristino. Nesse dia, não foi diferente, tomou o resto de uma pinga que tinha em casa, comeu o que chamava de quebra jejum (café da manhã) preparado pela mulher, Ilda Rodrigues Barbosa, e foi para o trabalho.



São aproximadamente três quilômetros da Campina até a fazenda de Jorge. Chico levava no bolso um carretel com anzol de 60 metros que Cristino havia lhe dado. Pensava em pescar na hora do almoço com Cabelo. Os compadres carregavam madeira da mata com o carro de boi para fazer uma cerca. Chico era reconhecido como um homem “bom de prumo”. Era difícil uma cerca feita recentemente na região que não contassem com a participação dele.



Ilda foi levar a refeição para o marido com Diva, uma das sete filhas do casal. “Chico ainda falou assim: ‘Abre essa cancela aí pra mim.’ Perguntei: ‘Você vai demorar?’. ‘Não, não vou demorar, não. Mas você pode romper (ir). Deixa a marmita aí em cima do curral. A hora que eu vier, eu pego’”, conta Ilda.



Depois que a mulher voltou para casa, Chico chamou Cabelo para pescar. Antes de descerem para o rio, passaram na cozinha da casa de Jorge para tomar um pouco de leite com sal. Chico queixava-se de pressão alta nesse dia. Cabelo conta que a idéia de tomar o “remédio” foi do companheiro. “Ele me falou assim: “Moço, eu não sei se leite com sal é bom pra pressão ou se é sem sal que é bom”. Cabelo respondeu: “Ô, moço, eu sei que leite com sal é bom pra pressão. Só não sei se é bom pra baixar, pra subir ou controlar.”



A casa de Jorge fica a 500 metros do rio. Durante a pescaria, os dois ficaram distantes cerca de cinco metros. Logo de início, Cabelo pegou um peixe. Chico não havia conseguido nada até então. “Uai, porque o senhor não tá ferrando?”, perguntou Cabelo ao compadre. Ele respondeu: “Deve ser porque peixe pequeno tá comendo essas iscas.”



Os dois conversavam sobre comentário feito dias antes por Ana Barros, mulher de Francisco Barros, o Chico Branco, produtor de cachaça vizinho da comunidade de Campina. “Olha, Cabelo, dona Ana falou que eu estou bebendo muita pinga. E que a pinga é pra vender mesmo, mas que eu tô bebendo muito.”



Por último, queixou-se de não conseguir enxergar a linha do anzol direito. Depois disso, Cabelo só viu o baque do corpo de Chico na água. “Quando caiu, o braço dele já tava todo mole, sabe? Uma coisa de que ele já tinha morrido mesmo. Porque quando tá meio vivo mexe, né? Bate.”



O corpo encostou embaixo do barranco do rio que, apesar de estreito naquela altura, tem mais de dois metros de profundidade e forte correnteza. “Fiquei olhando um pouco até a hora que eu desesperei e vim embora procurar ajuda”, relembra.



A VIDA DE CHICO DE CRISTINO



Chico era dois anos mais novo que Cabelo e três mais novo que a mulher. De acordo com Cristino, que também bebe, o filho começou a tomar pinga ainda muito jovem. Com 33 anos, os efeitos da dependência chamavam a atenção dos que conviviam com ele. Segundo a irmã, Anita, há algum tempo Chico não se alimentava direito. “Ele passou a reclamar de tonteira e amarelou. Amarelou que os pés dele pareciam que não tinham sangue.”



De acordo com Cabelo, as forças do compadre para o serviço diminuíram sensivelmente nos últimos anos de vida. “A gente trabalhando com uma pessoa por mais de dez anos, que nem eu e ele, vai se conhecendo. Via que não estava fazendo mais o que fazia antes.” Segundo o amigo, Chico não conseguia ficar sem beber. Estava sempre acompanhado das garrafinhas. “Até hoje, lá perto da placa da fazenda de Jorge, tem um vidrinho daqueles de biotônico que ele usava para pôr a pinga”, lembra.



Chico de Cristino costumava chamar o compadre para passar na fazenda de Chico Branco para comprar pinga antes de voltarem para a Campina. “Tinha vez que eu passava e tinha vez que eu não passava. Aí eu conhecia que ele não gostava. Eu chegava na Campina, não demorava e ele também chegava. Aí ele me gritava: ‘Você quer?’. Aí eu: ‘Não’. Quando queria eu ia lá e bebia uma. Fraco de pinga também, não güentava”, confessa.



Cabelo se diz curado do alcoolismo. “Eu larguei, graças a Deus. Não sou viciado em bebida, não. Tinha vez que os meninos tinham e eu tomava. Já tem uns aqui na Campina que estão quase perdidos. E são meninos novos. A gente dá conselho, mas eles não pegam, não.”



Ele fala dos meninos que começam a beber cedo como se repetisse a própria história ou a de Chico. “Tomo pinga desde os 12 anos. Não tomo pinga exagerada. Eu tomo pinga pouca. Se eu beber uma ou duas e o almoço estiver pronto, já não quero saber de mais nada. Meu negócio é só beber mais. Com três ou quatro já estou bêbado. Aí já era. Essa ressaca monta e eu fico ruim mesmo. Sei que agora, graças a Deus, tenho coragem pra tudo. Mas quando estava bebendo, meu Deus do Céu! Serviço que faz em uma horinha, eu enrolava.”



CARECA, O OUTRO FILHO DE CRISTINO



Em julho do mesmo ano em que morreu Chico (2001), faleceu Felipe Barbosa, o Careca, aos 25 anos. Felipe é filho de outro relacionamento de Cristino. Segundo o pai e a irmã, ele bebia desde garoto. Anita conta que, quando criança, Careca tinha uma gripe que não sarava nunca. Estava sempre com o nariz escorrendo e tossindo.



Fumava também desde menino. Pouco antes de morrer, já não agüentava andar porque sentia falta de ar e dor no estômago. Algumas vezes, tentava caminhar, mas precisava voltar para casa ou parar no meio da estrada. Depois disso, começou a inchar. De acordo com Anita, foi ao médico em Montalvânia, fez uns exames. Ficou constatado que o rapaz apresentava estado avançado de anemia. “Felipe morreu de tanto tomar pinga. A situação dele era ainda mais difícil do que a dos outros, porque, como bebia muito e desde muito novo, já chegava nos lugares bêbado. Por causa da bebida, não chegou nem ao ponto de arranjar namorada”, conta a irmã.



Cristino encarou a morte do filho como um alívio para ele e para a mãe do rapaz. “Felipe era nó cego (enrolado/complicado). Deus ajudou de ele morrer. Se estivesse vivo, eu matava ele ou ele me matava.”



De acordo com Cristino, o patrimônio do filho quando morreu consistia em um toca disco de agulha gasta e nada mais. “Fiquei satisfeito que nem chorar, nem água nos meus olhos veio. Estou alegre de ele ter morrido. Tava vendo a hora do prejuízo comigo ou com a mãe. Ele vendia o que não tinha para beber pinga. O dinheiro que ganhava, recebia ali e corria para o boteco”, conta o pai.



Em uma das tardes de crise de Felipe, começou a sair sangue pelo nariz, ouvido e boca. Só conseguiram um carro para levá-lo à Montalvânia no outro dia pela manhã. À meia-noite, Felipe estava morto. “Ele começou a sangrar sem parar, parece que estourou alguma coisa por dentro”, diz Anita.



O diagnóstico da irmã de Careca, apesar de menos sofisticado, reflete o que o Ivan Bonfim Oliveira, médico no município e especialista em recuperação de dependentes tanto de álcool como de cigarro, classifica como recorrente nesse perfil de paciente.



Para ele, o inchaço do corpo e o vômito de sangue são alterações típicas de um quadro avançado de cirrose. “Chega-se ao ponto em que os vasos do esôfago literalmente estouram e o doente morre em decorrência do sangramento.”



Segundo o médico, o índice de pacientes que procuram o posto de saúde com lesão hepática é altíssimo. “Procuramos reverter quadros de alcoolismo de 30, 40 anos”, conta. Ele atende cerca de 30 dependentes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no município.



DOMINGÃO, “O MAIOR BEBERRÃO DA CAMPINA”



“O sujeito que mais bebia na Campina era Domingão.” É o que afirma Ana Barros, mulher de Chico Branco. O fazendeiro produz cachaça há 19 anos, a cerca de dois quilômetros da Campina. “Tinha vez que (Domingão) mandava algum menino buscar cachaça para ele aqui até três vezes no mesmo dia”, afirma Ana. 



Domingos Oliveira dos Santos morreu aos 65 anos, no dia 17 de abril de 2006. Teve 13 filhos, oito no primeiro casamento e cinco no segundo, com Vitalina Barbosa dos Santos. Desde antes de se casar, ela sabia da fama do futuro marido. “Eu nem namorei com ele, mas ele não saía lá de casa querendo namorar comigo. O povo me dava conselho para eu casar com ele e eu sem querer. Eu não queria porque ele tava na bebida e também porque já tinha um bando de filho.”



Vitalina não só se casou com Domingão, como se lembra com detalhes o tempo em que moraram juntos. “Eu vivi com ele 20 anos e 13 dias.” No dia em que o marido morreu, os dois filhos mais velhos saíram cedo para trabalhar na roça e os mais novos foram para a escola rural da comunidade (1ª à 4ª série). Só Vitalina ficou em casa com ele. “Peguei um arroz, e pus no sol (para secar os grãos). Ele ficou tangendo (afastando) as galinhas do arroz. Quando foi meio-dia, vi que tinha uns pedaços de frango do outro dia.” O marido disse: “Vita, quero uma farofa”. Vitalina respondeu: “Ô, Domingos, a farinha acabou”. Ele deu a ordem: “Vai lá em cumade Joana. Eu não fico sem farinha, não.”



Domingão ficou sentado no terreiro da casa e pediu para que lhe trouxessem uma pinga. Pediu também o fumo para enrolar um cigarro. Preparou o fumo e deu um gole na cachaça. “Panhou (colocou) o cigarro na boca, deu aquela chupada naquele e veio aquela tosse. Quando veio aquela tosse, já foi a esguichada de sangue”, descreve Anita. Vitalina diz ter visto o marido vomitar cerca de um litro de sangue. “Vita, eu morri” foi a última frase que Domingos disse à mulher, recorda ela.



CÍRCULO VICIOSO



As famílias da Campina recebem regularmente o dinheiro do programa Bolsa Família do Governo Federal. Trabalho na região só por dia de serviço ou por empreita – acordo para fazer uma tarefa específica, como erguer uma cerca. Hoje, a diária custa R$ 15. São poucos aqueles que podem pagar esse preço por ali.



Muitos homens deixam às famílias na Campina para trabalhar no corte de cana em São Paulo. Usinas do interior paulista, principalmente na região de Ribeirão Preto, oferecem emprego no período da safra. Ônibus clandestinos lotados de trabalhadores chegam ao estado mais rico do Brasil a cada colheita.



Carteira de trabalho assinada é um luxo para poucos na Campina. Duas pessoas possuem: Juraci e Zé Vicente, marido de Anita. Trabalham em fazendas da região. Fora dia de serviço e os programas do governo, a renda dos moradores do lugar é completada por vendas esporádicas da farinha e do polvilho que produzem. Além de uma galinha ou de um porco que consigam vender.



Até 2005, não havia luz elétrica na comunidade e todas as casas eram cobertas por palha de buriti e feitas de pau-a-pique. Com a chegada do programa do Governo Federal Luz para Todos, as palhas foram substituídas por telhas de amianto para evitar a ocorrência de incêndios. Exceto a casa de Zé Vicente e Anita, reconstruída e inaugurada em 1º de fevereiro de 2008, nenhum outro domicilio possui caixa d´água e banheiro. Dependem do rio Cochá para tomar banho, lavar a roupa e conseguir água para cozinhar.



É difícil saber quantas pessoas são alcoólatras na Campina. De acordo com o médico Ivan Bonfim, o diagnóstico inicial é menos clínico e mais pessoal. “Os familiares são os primeiros a perceber os sintomas do dependente. O grande problema desse tipo de tratamento é convencer o doente a se reconhecer como tal”, explica.



Segundo Ana Barros, todo dia alguém da Campina busca cachaça no alambique do marido, Chico Branco. “Eu sempre dou conselho para eles não beberem tanto. Mas não tem jeito, eles sempre tomam pinga. Até menino de menor bebe”, conta.



Chico Branco é um dos principais produtores de cachaça do município e um dos poucos com condições de pagar R$ 15 pelo dia de serviço. “Têm deles (homens da Campina) que trabalha um dia ou dois, vai acertar e levou só de pinga. Trabalha só para beber”, afirma.



Ele vende o litro da cachaça por R$ 3,00. “Eu sou o fabricante da pinga, mas sou contra isso demais (beber exageradamente). O dia de trabalho é de trabalho. Agora, para beber cachaça tem os dias: fim de semana, uma hora de noite.” De acordo com o fazendeiro, beber todos os dias sem parar não vale a pena. “Eles não querem que sobre dinheiro para o consumo da família. Eles querem é só para isso (beber). A gente é contra isso demais. Mas não tem jeito, ninguém pode virar a cabeça de ninguém.”



Em 2001, Chico Branco ampliou a produção depois de conseguir um empréstimo de R$ 57 mil, para pagar em 12 anos. O financiamento foi feito a partir de linha de crédito do Banco do Nordeste específica para a produção de pinga.



Antes do incentivo desse banco público, Chico produzia entre quatro e cinco mil litros de cachaça por ano. Em 2005, a produção subiu para 14 mil litros. Segundo ele, a maior parte do empréstimo foi investida no plantio e adubo da cana-de-açúcar. Ele chegou a ter de oito a dez hectares de cana plantada. Um hectare corresponde a cem mil metros quadrados.



A produção já não alcança os mesmos números de 2005. As capivaras, mamíferos de dentes fortes e cortantes, são abundantes em beiras de rios da região e comprometeram a plantação do fazendeiro. “Elas estragaram muita cana. Eu venho lutando, cercando beira de rio e nada segura elas, não. A bicha é terrível demais.”



Chico Branco considera o retorno com o empréstimo abaixo do esperado e pretende acertar junto com outros produtores na mesma situação a renegociação da dívida com o banco. Com taxas de juros que variam de 3,75% a 6,38% ao ano e recursos provenientes do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), o BNB apóia pequenos, médios e grandes empreendimentos. É o maior banco de desenvolvimento regional da América Latina.



Segundo assessoria, o banco busca diferenciar-se das demais instituições financeiras pela missão que tem a cumprir: "atuar, na capacidade de instituição financeira pública, como agente catalisador do desenvolvimento sustentável do Nordeste, integrando-o na dinâmica da economia nacional."



Para tanto, procura executar “política de desenvolvimento capaz de contribuir de forma decisiva para a superação dos desafios e a construção de um padrão de vida compatível com os recursos, potencialidades e oportunidades da região”.



INCENTIVO



O BNB também é patrocinador do Festival Mundial da Cachaça, realizado anualmente na cidade de Salinas. Nos últimos dez anos, o município foi o que mais recebeu recursos para a produção de pinga no Norte de Minas, cerca de R$ 2,5 milhões. O total investido na região por meio da linha de crédito da cachaça nesse período foi de R$ 7 milhões e 204 produtores receberam o benefício.



Para Montalvânia, o banco repassou em torno de R$153 mil para 14 produtores do município investirem na produção de cachaça nos últimos dez anos. Mais de um terço desse valor diz respeito ao empréstimo realizado por Chico Branco em 2001.



O CUSTO DO GANHO



Em levantamento feito por pesquisadores do Laboratório para o Desenvolvimento da Química da Aguardente (LDQA), do Instituto de Química de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil produz cerca de 2 bilhões de litros de cachaça por ano. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, são 30 mil produtores no país.



Em 2001, mesmo ano do empréstimo concedido a Chico Branco e da morte de Chico de Cristino e Careca, morreram 8.864 pessoas de fibrose e cirrose do fígado no Brasil. Os dados são do Ministério da Saúde e levam em conta o que é escrito no atestado de óbito como causa da morte do indivíduo. Em Montalvânia, morreu uma pessoa. Na mesma base de dados, consta que 6.520 pessoas morreram de doença alcoólica do fígado no Brasil em 2001, duas delas de Montalvânia.



Ao somar as três causas – fibrose, cirrose e doença alcoólica do fígado – chega-se ao seguinte dado: em 2001, 1,6% (15.384) do total de mortes no Brasil (961.492) estavam diretamente ligadas ao consumo excessivo de álcool. Isso, sem incluir acidentes de trânsitos, homicídios, suicídios e outros motivos de falecimento que podem ter influência indireta do alcoolismo.



O mesmo cálculo repetido para Montalvânia mostra que 4,8% (três) das mortes de 2001 (64) tiveram como causa fibrose, cirrose ou doença alcoólica do fígado.



Segundo Valter Rodrigues, o Vá, outro fabricante local, a metade da pinga produzida no município vai, principalmente, para Janaúba e Januária, cidades maiores do norte de Minas, onde a bebida é engarrafada e rotulada. A outra metade fica no município ou, segundo ele, “embarca” nos ônibus que vão para o interior de São Paulo.



Valter Rodrigues considera que o investimento mínimo para se produzir 10 mil litros de cachaça por safra (três meses) no município varia de R$ 10 mil a R$ 12 mil. “Tem muita gente sobrevivendo disso aqui, porque não está tendo alternativa, não.”



A dose de pinga no boteco custa R$0,50. Quanto à questão do alcoolismo, Valter lamenta. “Sinceramente, eu faço porque preciso fazer. Preciso do dinheiro dela para sobreviver. Mas que é triste, é. Ver gente morrendo por causa de cachaça.”



PERFIL



Alguns dados que ajudam a entender a realidade do município. Em 2007, o Governo Federal transferiu R$ 9.742.804,65 para Montalvânia:



- Fundo de Participação dos Municípios: R$ 5.867.107,77


- Bolsa Família: R$ 1.575.816,00 e 1.995 famílias atendidas


- Total de gastos com assistência social: R$ 1.717.797,52



DADOS DO CENSO 2000 SOBRE MONTALVÂNIA



- Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M): 0,645


- Renda do município proveniente do trabalho da população: 45,75%


- Taxa de analfabetismo: 43,4%


- Pessoas com menos de quatro anos de estudo: 61,7%.


- Renda per capita: R$ 92,2.


- Proporção de pobres: 67,1%.


- Em 2000, Os 10% mais ricos do município detinham 48,93% da renda total do município.


- menos de 0,01 médicos residentes por 1000 habitantes.


- Esperança de vida: 65,35.


- Probabilidade de sobrevivência até os 40 anos: 88,09%.


- Probabilidade de sobrevivência até os 60 anos: 71,23%.


- Mortalidade de crianças até 5 anos: 48,75 por 1000.


- Taxa de fecundidade total: 3,3 filhos por mulher ao fim do período reprodutivo.



Tabela de operações realizadas e montante investido pelo banco no setor por município de sua jurisdição no Estado de Minas Gerais:





































































































































































































































































































































































































































Município




Operações




Valor Contratado




AGUAS FORMOSAS




1




228.596,29




ALMENARA




1




11.775,65




ARACUAI




9




374.750,22




BANDEIRA




3




24.700,00




BRASILIA DE MINAS




1




1.400,00




CARBONITA




2




39.574,13




CARLOS CHAGAS




1




1.000,00




COCOS-BA*




3




47.701,30




CORACAO DE JESUS




3




287.429,14




CORONEL MURTA




4




27.168,18




FEIRA DA MATA-BA*




2




19.473,70




FRUTA DE LEITE




2




199.435,50




GRAO MOGOL




3




17.340,00




JACINTO




1




9.401,01




JANAUBA




1




30.000,00




JANUARIA




13




1.352.699,70




JEQUITINHONHA




2




66.389,40




MANGA




8




138.804,40




MINAS NOVAS




3




7.071,10




MIRAVÂNIA




1




19.712,79




MONTALVÂNIA




14




152.188,65




MONTE FORMOSO




1




9.446,40




NOVO CRUZEIRO




2




19.455,20




NOVORIZONTE




2




372.449,00




OLHOS-D'AGUA




1




4.800,00




PADRE PARAISO




2




91.034,81




RIO PARDO DE MINAS




4




129.625,75




RIO VERMELHO




1




15.300,00




RUBELITA




63




661.420,48




SALINAS




34




2.422.106,67




SANTO ANTONIO DO RETIRO




2




18.600,00




SAO FRANCISCO




2




3.000,00




SAO JOAO DA LAGOA




1




5.997,60




TAIOBEIRAS




2




22.377,06




TEOFILO OTONI




1




1.400,00




UBAI




1




435.053,44




VARGEM GRANDE DO RIO PARDO




1




8.830,96




VARZEA DA PALMA




1




34.970,70




VIRGEM DA LAPA




5




5.790,85




Total geral




204




7.318.270,08




Fonte: Banco do Nordeste do Brasil - Posição de fevereiro/2008


Pela tabela apresentada pelo banco, os municípios baianos de Cocos-BA e Feira da Mata-BA (ambos na divisa) como jurisdição do estado de Minas Gerais
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